domingo, 8 de fevereiro de 2009

A diferença...


Um comentador, anteontem, no post “criticando o criacionísmo num blogue chamado Darwinísmo” (1) confunde o que são pressupostos com factos e teorias. Por isso confunde evolucionismo com fé. E criacionismo com ciência.

Os pressupostos da ciência são os princípios em que esta precisa de assentar para se conseguir os factos e depois as teorias. São os princípios de funcionamento.
Estes principios são os mesmo em toda a ciência. E são opostos de ter uma teoria a proteger e depois ter de escolher de entre os factos aqueles que nos servem. A ordem é diferente. E o resultado está à vista. A ciência evolui com o surgir de novos dados e o criacionísmo não. Mantém-se um fóssil cognitivo.

Mas pensei que estava claro. Espero que agora a diferença já esteja bem explicita.

Notas:
O cartoon é de John Trevor e foi publicado no Albuquerque Jornal 1998. A minha fonte foi secundária, foi o blogue Lusodinos.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Fosseis de dinossauros encaixam perfeitamente na árvore da vida.

Uma estudo recente da Universidade de Bath, conclui que há uma concordância muito boa entre a analise morfológica dos fosseis de dinossauros e a sua análise cronológica.

Da analise morfológica pode-se desenhar uma "árvore da vida", de acordo com as características de cada fóssil. As divergências quando ocorrem criam novos ramos que vão prosseguir até uma nova alteração que dê origem a outros dois ramos. Ou três ou quatro.

Seja como for, a teoria da evolução prevê que conforme se forem encontrando novos fosseis, eles se vão encaixando na "árvore da vida" e que a sua análise cronológica seja coerente com estes resultados. Isto é, não encontrar formas mais evoluídas em ramos inesperados antes ou depois do que era previsto. Se tal acontece-se a teoria era falsificada.

Anomalias no registo fóssil podem aparecer. Segundo o artigo as explicações mais frequentes são a inexistência de fosseis suficientes para fazer um quadro completo, erros no desenho da árvore ou ambos. Fala ainda da existência de lacunas no registo fóssil, ou porque ainda não foram encontrados ou porque existem condições particulares para a formação dos fosseis.

Mas de acordo com a análise estatística levada a cabo com dinossauros esse problema não existe. O nosso conhecimento acerca da sua árvore da vida é bastante completo.

Que espantosa coincidência esta entre a datação por carbono e a morfologia. Aparentemente, pelo menos, os dinossauros evoluem (ou evoluiram). Se calhar as outras espécies também.

Pode ler-se o "press-release" aqui:

http://www.bath.ac.uk/news/2009/1/26/dinosaur-fossils.html

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Criticando o Criacionismo de um blogue chamado Darwinismo

O Mats, um defensor do criacionismo, no seu blogue chamado “Darwinismo” (!?) , dedicou uma entrada (1) a responder ao meu “post” intitulado “mutações cumulativas”(2). Ele começa assim:

“No blog intitulado de “Crónica da Ciência - Divulgar ciência, cepticismo e pensamento crítico”, encontramos este post onde tudo que é divulgado é mitologia mascarada de ciência.
Não deixa de ser impressionante a quantidade de falsas crenças que dominam a religião evolucionista.”

Por trás destas afirmaçôes só pode estar a ideia de que existem algo como duas ciências. Existe aquela que lhes trás a tecnologia, utilizada no dia a dia e que suporta as suas crenças, e a outra - que sendo incompatível com os seus postulados teóricos – se trata de uma espécie de mitologia.

Mas a ciência é a mesma. Não existe uma ciência que assente em qualquer tipo de mitologia, como se tivesse uma lista de factos e teorias definidos à priori a partir dos quais tivesse de se elaborar todo o resto. A ciência parte de facto de um conjunto de pressupostos e de princípios básicos, que evoluem, mas eles são transversais às diversas áreas. A fundação na Lógica e na Matemática, a experimentação sistemática e a preocupação com a metodologia, os critérios de falseabilidade e valor preditivo das teorias, o rigor da descrição das observações, a abertura a refutação, o principio de Occam, etc.

É o criacionismo, neste caso, que como tem de partir de determinados factos e ou teorias pré-determinados, depois precisa de fazer uma escolha quase ad-hoc entre o que é ciência e o que não é, para poder afirmar que se trata de uma teoria científica. Digo quase ad-hoc porque afinal tem um critério de exclusão. E o critério é não entrar em contradição com as teorias que pretende manter intocáveis.

Por isso, é preciso para ele por de parte quase toda a biologia, onde nada faz sentido sem ser à luz da evolução como dizia Dobzhansky (3). É preciso acabar com a estratigrafia e parte da geologia -com a paleontologia de enfiada, a datação por carbono 14, negar o resultado de experiencias como as de Lensky (4) e mais recentemente de Lincoln e Joyce (5), negar a existência de fosseis de transição (6), os resultados obtidos com algoritmos genéticos em matemática, etc… E negar a excelente integração da genética com o modelo evolutivo. Aliás, negar uma grande parte da própria genética como o estudo de mutações, hereditariedade, etc.

Mas a negação mesmo presente no texto do Mats, a que ele explicíta é:

“1. Mutações re-organizam e/ou apagam informação que já exista.. Elas não geram novas funções genéticas.2. As mutações são na sua esmagadora maioria malignas para o sistema biológico. Acreditar que um processo aleatório como as mutações genéticas possam gerar sistemas sofisticados como o sistema de visão é ter uma fé imensa e totalmente infundada.”

Não é assim. As mutações quando aparecem podem ser de vários tipos. Por diversos processos e com variadas consequências. Podem ir desde uma troca de um nucleotideo por outro, a perdas de bocados de cromossomas ou duplicação do seu numero. Acrescentam diversidade ao genoma. Ou seja, vai haver mais genes no total no património genético de uma população depois da mutação do que antes. E quando aparecem não são boas nem más. Isso é determinado pelas suas consequências.

A adaptação e a sobrevivência, para o meio ambiente específico do organismo melhorou ou piorou? Ou manteve-se igual? Às vezes melhora nuns casos mas piora noutros como no caso da anemia falsiforme que aumenta a resistência a um parasita dos glóbulos vermelhos (plasmondium) mas pode ser um sarilho sem vantagens em regiões onde a malária não é um problema. Esta resistência à malária é ganha através da simples troca de ácido glutâmico por valina (aminoácidos) na cadeia de aminoácidos da hemoglobina. Nem precisa de grandes alterações genéticas. Os resultados no entanto são enormes, nas zonas onde há malária essa mutação mostrou ser mais bem adaptada que a versão normal do gene.

Que elas resultem “na sua esmagadora maioria” malignas para o sistema biológico não é de estranhar. A probabilidade de uma mutação pontual surgir que melhore ainda mais aquilo que tem milhares de anos de evolução é pequena. Mas não inexistente. E muitas vezes é preciso um acumular de várias mutações, que até podem ser neutras, para dar origem a uma nova função, como ilustrado na já referida experiencia de Lensky. É obvio que se acreditamos que a Terra só tem cerca de 6000 anos, não vai haver tempo para tal processo. Mas resultados CIENTIFICOS não convergem nessa direcção. Nem pouco mais ou menos.

Quanto ao acreditar que processos aleatórios não podem dar origem a mecanismos complexos como o olho é não querer compreender a analogia que eu dei do desenho do gato. Mas como eu disse, se no caso do desenho do gato poderia argumentar-se que era preciso uma guia ou algo parecido que fosse inteligente, em relação à filtragem das mutações por selecção natural essa guia é o meio ambiente. A realidade é de facto melhor que a analogia. Ela só foi criada para explicar, aparentemente a quem tem vontade de aprender. Explicar como o acumular de mutações geradas ao acaso, por acção ambiental podem dar origem a estruturas complexas. Que existem diferentes graus de adaptabilidade dos indivíduos conforme as suas características é uma facto. Que estas estão parcialmente determinadas pelo código genético (genotipo/fenotipo) também é um facto. Que mutações acontecem com consequências variadas é outro facto. Que se a natureza exclui as más por inviabilidade total (curto prazo) ou parcial (longo prazo) - as neutras e as “boas” se vão acumular, é lógico.

Quanto ao olho humano, obvio que não surge de um dia para o outro. É preciso um acumular de mutações que vão dando origem a estruturas progressivamente mais complexas e funcionais, como eu tenho referido. De resto, o caso do olho está muito bem explicado no livro “O Relojoeiro Cego” do Richard Dawkins e eu já o abordei aqui noutro “post” (7).



(1)http://darwinismo.wordpress.com/2009/02/04/mutacoes-e-mitologia/
(2)http://cronicadaciencia.blogspot.com/2009/01/mutacoes-cumulativas.html
(3) Ver aqui um post sobre Dobzhanzky:
http://lusodinos.blogspot.com/2009/01/theodosius-hryhorovych-dobzhansky.html
(4) Lensky; a experiencia sugere fortemente como o acumular de várias mutações e não apenas uma foi necessária para surgir uma nova função em bacterias E. coli: http://cronicadaciencia.blogspot.com/2008/11/uma-prova-favor-da-evoluo-mais-uma.html
(5) Lincoln e Joyce; mostram a evolução a acontecer ao nivel de moleculas:
http://cronicadaciencia.blogspot.com/2009/01/sobre-origem-da-vida.html
(6) Sobre fosseis de transição:
http://lusodinos.blogspot.com/search/label/F%C3%B3sseis%20de%20Transi%C3%A7%C3%A3o
(7) Sobre a teoria da evolução:
http://cronicadaciencia.blogspot.com/2008/09/teoria-da-evoluo.html

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Teorema de Godel e a mente.

Este post vem na sequência da entrada que escrevi sobre o Teorema de Godel(1).



Na wikipédia, na página sobre o mecanicismo (filosofia: os fenomenos naturais encontram a explicação no mundo físico) (2) e no capitulo sobre os argumentos godelianos acerca de mentes e máquinas, apresentam o seguinte excerto do GEB (3) como sendo anti-mecanicista e vindo de uma conhecido mecanicista. Não sei se é.


O excerto é o seguinte:


"Visto desta maneira, o teorema de Godel sugere - de modo nenhum prova! - que pode haver algum nível elevado de ver o cérebro/mente, envolvendo conceitos que não aparecem nos níveis inferiores, e que este nível alto terá poder explicativo que não existe - nem mesmo em princípio - nos níveis inferiores. Significaria que alguns factos poderiam ser explicados num nível elevado facilmente , mas não em níveis baixos , por mais longo e pesado que se esse argumento fosse criado nesse baixo-nível. É análogo ao facto que, se se fizer derivação após derivação em (aritmética de Peano), não importa quão longa e pesada ela se torne, nunca aparecerá uma afirmação godeliana G - apesar do facto de que num nível elevado, se pode ver que a afirmação de Godel é verdadeira. Que podem esses conceitos de alto nível ser? Tem sido proposto por eons (...) que a consciencia é um fenómeno que escapa a explicação em termos de componentes do cerebro; então aqui está um candidato finalmente. Também existe a questão sempre "puzzling" do livre-arbítrio. Então talvez estas qualidades possam ser emergentes no sentido de requerer explicações que não podem ser fornecidas pela fisiologia apenas." (Godel, Escher, Bach, p 708)



Eu queria ter verificado a citação no livro, do qual tenho a versão portuguesa mas ainda não tive tempo. Assumi para já que estava correcta. Também queria ver o desenvolvimento que Douglas Horfstader dá à questão no livro, uma vez que sei que o autor não defende nenhum tipo de dualismo mente/cérebro como sendo entidades distintas. Mas queria de qualquer modo fazer um comentário.



A minha interpretação é que quando ele diz "que não podem ser explicadas pela fisiologia apenas", não estava a excluir que fosse de qualquer modo baseada nesta. Ou seja, o sistema de alto nível teria sempre de ser suportado pela neurobiologia, embora não de um modo directo.

Seria a consequência da consequência da actividade dos neurónios e da interacção de uns com os outros em rede. Como ele diz, seria uma propriedade emergente.

Por exemplo, uma sequência de aminoácidos numa proteína não tem função enquanto a proteína não se enrolar e dobrar, o que acontece de acordo com as atracções entre os átomos de cada aminoácido da sequência. A função não surge da estrutura primária (a sequência simples dos aminoácidos) mas da terciária ou quaternária, isto é, da forma com que a molécula final ficou e de que grupos ficaram expostos e juntos no centro activo. A questão é tão complexa que só se consegue explicar o que uma proteína faz depois de a deixar dobrar-se.

Outra analogia que eu penso que é possível é com a programação procedural. Os objectos não são directamente programados mas emergem do processo de execução do programa.

Nesse sentido, será possível explicar a mente admitindo que algumas funções surgem do processo de outras mais básicas e da interacção entre estas, desde que a estrutura neurológica tenha a capacidade de suporte suficiente e adequada. É de resto curioso notar que é possível anatomicamente, fazer uma analogia das estruturas conhecidas do sistema nervoso central com sistemas sobre sistemas com complexidade crescente.

É de notar também que a complexidade da estrutura de "hardware" parece estar de facto envolvida. Porque cérebros existem em muitos animais, mas nem todos desenvolvem consciência. E mesmo no nosso cérebro parecem existir estruturas que pelo menos estão ligadas com o estado de conciencia.

Mas toda a questão ainda é especulativa, e como ele próprio diz - é uma sugestão que vem do teorema de Godel. Pareceu-me que é um bom "alimento para o pensamento".



Comentários e correcções são apreciados.
(1)http://cronicadaciencia.blogspot.com/2009/01/sobre-o-teorema-de-godel.html
(2)http://en.wikipedia.org/wiki/Mechanism_(philosophy)#G.C3.B6delian_arguments
(3)Godel, Escher e Bach de Douglas Hofstadter :http://en.wikipedia.org/wiki/G%C3%B6del,_Escher,_Bach

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O O.V.N.I. de Obama

Hoje descobri isto:

http://www.metacafe.com/watch/2345983/ufo_at_the_obama_inauguration/

São imagens que circulam na internet sobre uma pequena e desfocada mancha que passa durante breves instantes em frente à camara. No dia da inauguração de Obama.

Cá por mim aquilo bate asas e tem uma trajectória oscilatória. Insecto, pássaro... E passou demasiado perto da lente.

No entanto parece que a hipótese U.F.O. tem muitos adeptos. E já se sabe o que se segue. Não sei porquê, sempre alguém que diz que a explicação de homenzinhos verdes num disco voador prateado é uma explicação mais plausível do que coisas que acontecem normalmente por aí...

Update:

O Pedro notou e bem, que U.F.O. está correcto até uma identificação concreta do referido objecto. Eu usei alguma liberdade com o termo e queria dizer algo como inidentificavel ou inexplicável tipo Unidentifiable ou Unexplanable Flying Object.