quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Bom Ano Novo

Este é um post curtinho porque tenho muito que fazer :)

É só para desejar um bom ano novo a quem por aqui passe e uma grande passagem de ano. 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Sobre a ciência

A ciência evolui - para além do acumulo de conhecimento.

Talvez o que distingue a ciência da filosofia seja o empirismo sistemático. Enquanto que a filosofia se preocupa com o que é que podemos saber e como podemos saber, a ciência actua como se a resposta para isso fosse dada pelo próprio progresso do conhecimento. 

Em alguns casos em que os principios filosóficos da ciência não eram suficientes para continuar a progredir, a estrutura procedural da ciencia alterou-se de modo a conseguir encontrar mais respostas. Um bom exemplo foi a passagem do verficacionismo para o falsificacionismo(1), notada à posteriori pelos filósofos da ciência. À posteriori porque a ciência já estava a funcionar com a forma de falsificacionismo mais actual quando Popper lançou as linhas mais gerais. Darwin e Einstein foram os verdadeiros revolucionários. 

Ambos mostraram como o conhecimento continuava a progredir sem que a ciência se validasse "à moda antiga". Observaçao direta e verificacionismo ficavam obsoletos ainda antes de ser decretado o seu fim.

O empirismo sistematico e metodologico não foi ultrapassado mas ganhou uma nova dimensão ao admitir-se que se conseguimos prever o futuro além de explicar o passado, em relação a uma determinada questão, é porque provavelmente conhecemos um fenómeno. 

A plausibilidade

E "provavelemente" é o melhor que podemos dizer. Porque provavelmente não podemos ter a certeza de nada. E em termos absolutos a ciência não deveria provar ou validar-se a si própria. Daria um problema de auto-referencia sem solução. Mas este é um problema para qualquer forma de conhecimento. Pois se tentamos justificar esse conhecimento com os próprios conhecimentos, seja ele qual for, estamos a cair em auto-referência. 

Como é que saímos deste impasse? De modo absoluto não creio que tenha solução. Ou seja, penso que haverá sempre coisas que teremos de assumir como sendo verdadeiras, ainda que apenas provisóriamente. O que se impoe então é saber se o conhecimento que se adquiriu é ou não o melhor que se pode fazer. Qual a plausibilidade relativa do que acreditamos.

A ciência é um integrado complexo

E aqui a ciência tem um comportamento de predador. Se uma solução serve para explicar melhor um fenómeno, venha essa solução de um filosofo ou de um teologo, ela é aceite. Porque existe uma linha de intersecção larga da ciência com a filosofia. Enquanto que eu comecei este texto por dizer que provavelemente aquilo que distingue a ciência da filosofia, a realidade é que existem muito mais coisas que as unem, pois a ciência não é apenas empirismo. 

Parte da ciência, e uma parte consideravel e importante é a discução aberta. Provavelmente é esta discussão aquilo que a valida. Que a valida, não como verdade absoluta, mas como explicação plausível ou como sendo o melhor que se pode. E isto não é muito diferente do que fazem os filósofos. Sobretudo se verificamos que a ciência açanbarcou ferramentas como por exemplo o pensamento crítico. Ferramentas essas que vêm da filosofia. Alias muito do que é ciencia hoje já foi filosofia no passado. Mas o que quero deixar explicito é que essa diferença, a linha entre a filosofia e a ciência não é clara. Tal como não é facil distinguir ciência de pseudociência. Em ambos os casos porque uma "canibaliza" conceitos da outra, mas o que se passa nas pseudociencias é que não há repeito pela consistencia e os conceitos são escolhidos ad-hoc. Mas isso é outra discução.

Outra area que importa fazer uma grande menção honrosa é a matemática. Sem matemática não há ciência. É assim tão simples e tão obvio. Enquanto linguagem a matemática providencia à ciencia uma base clara de descrever muitos fenomenos. Enquanto processo, a matemática dá à ciência a capacidade de usar os seu metodos para produzir mais conhecimento e analizar informação. Que a matemática prossiga autonomamente, o que acontece quase sempre, não é um problema. É uma vantagem. A titulo de curiosidade, diga-se que há matemáticos que defendem que a matemática é uma area de conhecimento empirica. E eu tambem penso assim. O que faria dela uma ciência completa.

Plausibilidade pela consistência

Outra linha de validação do conhecimento cientifico e que aumenta não a veracidade absoluta de uma preposição mas acrescenta muito acerca da sua plausibilidade é a consistência interna da ciência. Se conseguimos verificar a mesma teoria por linhas de investigação diferentes, temos aqui um argumento de consistencia. E mais importante ainda, se essa nova teoria se consegue integrar lógica e matemáticamente num quadro cognitivo maior, com as outras teorias todas que conseguimos descrever antes por origens diferentes e em areas diferentes, temos que a plausibilidade dessa teoria ou explicação aumenta muito. Porque demosntram consistência. A biologia não pode ser feita de teorias incompativeis com a quimica ou com a física por exemplo. Tudo tem de funcionar articuladamente. Se isso não acontece, então temos um problema. Como por exemplo a integração da mecanica quantica com a relatividade. Um grande problema. Mas como tenho dito, mesmo sabendo que há algo errado e por resolver, não é por esse facto que deixam de ser a melhor explicação possivel. Isso acontece, obviamente quando aparecer uma teoria que o faça melhor. A teoria das cordas está no bom caminho.

Mas este post não é sobre casos específicos, é sim sobre a validação da propria ciencia enquanto conhecimento. E do que se pode esperar do significado de uma validação do conhecimento. Porque como propuz logo ao principio, não podemos de um modo "à prova de bala", justificar um conhecimento com ele próprio. A auto-referencia é um erro de raciocínio. Em ciência e em filosofia. Por outro lado, obviamente, este não é um problema da ciência, mas sim de toda e qualquer forma de conhecimento que se queira fechar em si própria. E é essa a solução que a ciência encontrou. É manter várias vias de validação a funcionar ao mesmo tempo enquanto se assegura que existe consistencia ( não haver contradições lógicas formais ou informais) entre essas vias todas e dentro dela própria.

Negacionismos absolutos e afins são auto-refutantes. 

Este argumento é à prova de bala? Mostra para alem de qualquer objecção que a ciência se pode validar a ela própria? Não. Até porque podemos estar todos a viver na "Matrix" e não saber. Mas encontrar uma consistencia satisfatória no conhecimento gerado enquanto se procura manter uma ancora na realidade através do empirismo metodico e sistemático diz muito acerca da plausibilidade do conhecimento cientifico. Tanto que não sendo possivel dizer que a ciencia alcança certezas, se pode mostrar, pela integração de todas estas ferramentas, que é o melhor que o ser humano consegue para produzir conhecimento.

A não se que se assuma que a verdade não existe. E que uma crença é tão verdadeira como qualquer outra, independentemente da justificação que tenha.

Mas a ciencia é acerca daquilo que se pode saber, não é do que não se pode. Mas o que não se pode saber, nós não sabemos o que é. Não sabemos nada. De momento. Por isso, tentar adivinhar não vale. Porque isso não é nada. E mesmo que esta realidade seja virtual, para já é tudo o que podemos esgravatar para tentar preceber de onde veio. E sem duvida comprender como se comporta. Mesmo que seja virtual, é o mundo que nos afecta. E mesmo que só possamos chegar a verdades incompletas sobre uma realidade virtual, então é melhor que nada. 

Usar isto como argumento para colocar o palpite ao nivel de uma forma de conhecimento é errado. E quem não acha que pode construir conhecimento então não vale a pena sequer discutir, porque nunca se vai saber o resultado da discoção, nunca vai saber se a cada momento o argumento é valido, não vai saber nada. Para ilustrar esta situação, proponho uma refleção sobre a frase:

"É verdade que a verdade não existe". 

Conclusões

Em resumo, o que torna a ciencia especial e aquilo que a torna o sistema cognitivo preferido dos cepticos é um conjunto de coisas e a intergração destas. A saber, a matemática, a lógica, pensamento crítico, a abertura a refutação e a procura de extrair informação do meio exterior. 

Não se pode provar a ela própria, mas nada pode. Pode sim dizer-se que é o melhor que se consegue e que isso já é algo, porque consegue explicações plausíveis. E capazes de prever o futuro. E capazes de fazer evoluir o próprio processo de conhecimento. A própria ciencia, como referido acima evolui.

Por ultimo gostava de voltar aqui a referir que usar aquilo que não sabemos para provar algo é uma falácia. Dizer " a ciência não explica tudo" ou "a ciência tem limites" para provar algo não serve. Se queremos provar como conhecimento uma crença qualquer temos de o fazer em relação às preposições resultantes dessa crença e de como elas podem ser validadas. 

Se acreditamos que as crenças são todas iguais e que não há nada que possa ser justificavel, ainda que parcialmente, então nem vale a pena começar um argumento, porque está perdido à partida.

Notas:

(1) Popper foi refutado ainda em vida acerca do falsificacionismo. Ficou no entanto de pé uma forma menos forte em que o que se testa são condições associadas à teoria, uma vez que a critica que lhe foi feita consistia em que às vezes testar diretamente uma teoria em relação ao que ela prevê é impossivel. Popper para o fim da vida dedicou-se a tentar determinar quais as caracteristicas dessas condições associadas que podem e são testadas. De um modo geral, a capacidade de uma teoria fazer previsões que sejam verificadas não foi derrubada. Apenas o modo como é feito. As teorias ainda têm de fazer previsões, ainda que não diretas. 

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Experiencia de quase-morte (NDE - Near Death Experience)

Através do blogue do Miguel Panão, que é uma colecção de textos que tentam misturar ciência e religião (como eu pensei que não se produzia em Portugal, onde a superstição e o misticismo normalmente são de cariz tradicional), cheguei a esta página sobre a experiência quase-morte:
http://www.towardthelight.org/neardeathstudies/pimvanlommelarticles.html
O autor, passando por cima de uma data de explicações plausíveis, incluindo boas referencias de factos que podem explicar o fenómeno, sumariamente diz que "não estão provados" e avança para uma explicação mirabolante que assenta numa teoria da consciência baseada na mecânica quântica que, se fosse verdadeira, poderia explicar parte do fenómeno quase morte. Diz ele. Da não localidade quantica para "todos os fenómenos estão ligados" é um salto que dá sem pestanejar. E outras coisas assim.
Que o cérebro está a funcionar mal, que experiências extracorporais possam ser induzidas com drogas, por exemplo, parece que não é importante. Parece que explicações plausiveis e baseadas em coisas que sabemos, não quer ele aceitar.
Porque diz que existem relatos de pessoas que estavam com "linhas do E.E.G. planas" (ou seja virtualmente sem actividade cerebral) quando tiveram a experiência de quase-morte. E sustem esta afirmação extraordinária em duas narrativas (haverá mais talvez, mas ali só refere duas), uma de um médico e outra de uma enfermeira que dizem que tiveram pacientes capazes de descrever factos ocorridos durante o coma profundo. Num dos casos havia um EEG (electroencefalograma) ligado a mostrar inactividade cerebral.
Mas aqui, tirar conclusões tão evolucionarias com uma amostra tão pequena, tão impossível de reproduzir e tão baseada em testemunho individual, tão díficil de confirmar que levanta as minhas dúvidas (eufemismo) é insensato. Não é o mesmo testemunhar que se viu o sol nascer e que não chovia nesse momento, por exemplo, do que contar sobre um doente que foi capaz de narrar um episódio que não podia ter presenciado, nem que ninguém lhe tinha contado enquanto o E.E.G. fazia uma linha recta perfeitinha.
Assumindo que o E.E.G. estava bem colocado, é certo. E que não há actividade cerebral que escape ao E.E.G, e que foi nessa precisa altura e não antes, sem margem de dúvida, que a experiência se deu...
Realmente, uma série de questões poderiam ser colocadas, mas sendo tão poucos os casos, acho que não têm mais valor que os relatos de raptos por extraterrestres. Mesmo que sejam médicos a contar.
Estes episódios de experiência extracorporal que acontecem em alguns casos de NDE parecem absolutamente incríveis mas o sentido da investigação neurológica aponta para outra direcção. De facto a sensação de estarmos dentro do nosso corpo é que é algo que o cérebro têm activamente e especificamente de conseguir. Se algo falhar, essa noção pode-se perder.
Aparentemente é conseguida quando o cerebro "cruza" a informação proveniente de vários orgãos sensoriais. É a integração do que vêmos, ouvimos, sentimos no interior do corpo e no exterior (tacto, etc) que dá essa sensação (2). Em alguns casos podemos induzir experiencias extracorporais através de truques aplicados nos orgãos dos sentidos (3). Sem ter de recorrer à ketamina. Ou aos alucinogénicos que as tribos usavam nas suas experiencias misticas para por o cerebro a funcionar mal.
Porque a funcionar bem é que ele não está. E existe de facto investigação que sugere que o sangue que flui para o cerebro durante a ressuscitação cardio-pulmonar seja suficiente para permitir um pequeno funcionamento (4). Mas mau. Com pouco oxigénio não se pode pedir muito, e todo o tipo de memórias desse momento serão desculpáveis.
Só falta alguém tentar impingir que os sonhos são a nossa consciência a viver noutra dimensão e que a nossa memória deles tem de ser suficiente para suportar ser real.
(1)Sabom MB. Light and Death: One Doctor’s Fascinating Account of Near-Death Experiences: “The Case of Pam Reynolds.” In chapter 3: Death: The Final Frontier. Michigan: Zondervan Publishing House, 1998:37-52.
(2)http://www.theness.com/neurologicablog/?p=749
(3)http://www.newscientist.com/article/dn12531-outofbody-experiences-are-all-in-the-mind.html
(4)http://www.theness.com/neurologicablog/?s=neaR+DEATH

PS: Substitui "pseudoreligião" por "tretas resultantes de misturar ciencia e religião", logo nas primeiras linhas, por protesto do Miguel Panão.

Espiritual e entropia.

O Miguel Oliveira Panão é um investigador cientifico formado em engenharia mecânica e fortemente teísta a quem foi pedido que esclarecesse o que queria dizer com "espiritual", dada a pluralidade de significados que a palavra pode ter.

Escreveu o post intitulado : "Sobre o espiritual" (1) que sendo tão longo e tendo tanto a criticar me deixou sem saber por onde lhe havia de pegar. É um exemplo claro do que é pseudociencia, e considero toda esta situação especialmente perversa.

No "Ktreta" o professor Ludwig Krippahl teve a paciencia de debater apenas e exaustivamente a adequação do uso dos conceitos de termodinâmica para definir espiritual, o que acabou com o Miguel a puxar dos seus galões dizendo que essa é a área da sua especialidade - embora em termos de argumentação não tenha conseguido explicar convenientemente a sua teoria.

Acho que o post do Miguel vale a pena ler, infelizmente não por ser elucidativo. É pseudo-ciência fresquinha e deixo aqui o Link:

http://cienciareligiao.blogspot.com/2009/12/sobre-o-termo-espiritual.html

A minha resposta está lá mas copio-a para aqui. Nas notas deixo os links para a resposta no blog do Ludwig.

"Miguel Oliveira Panão:

Depois de saber que fazes investigação na área da termodinâmica não resisti a vir aqui criticar o teu post. Não porque saiba mais termodinâmica do que tu, mas porque posso apontar os pontos que saltam à vista e que não é preciso saber de termodinâmica para perceber que não têm seguimento lógico.

Partes do pressuposto inicial que existe uma energia espiritual. E usas conceitos físico bem estabelecidos para aplicar a essa teoria para explicar o que é o espiritual.

Convinha por conseguinte explicar primeiro o que é a energia espiritual e de que modo pode ser observada e medida, uma vez que pretendes usar leis cientificas sobre ela.

E não é só aí que usas conceitos que necessitam explicação e evidencia experimental para que se possam tratar com o rigor que depois lhes tentas incutir:

“«as duas energias – da mente e da matéria, distribuídas respectivamente sobre as duas camadas do mundo (o interior e o exterior),(…)”

Objectivamente, o que é a energia da mente e o que é o mundo interior e exterior? Se o mundo interior é a mente, e a energia da mente é o processo mental normal, como é que fazes partes depois para dizer que é a entropia:

“a entropia possui como que um aspecto mental, que Teilhard se refere por vezes como energia espiritual”

Propões que seja porque “«é como se a energia livre de Gibbs pudesse ser dividida numa componente material e outra mental»? É que este tipo de coisas que começam com “é como se” são especulação que não podem passar para o “é”.

Ou que seja sequer a energia livre, ou o trabalho realizado quimicamente por combustão da glicose. Avançando que o Ludwig já esmiuçou bastante esse tema e como propus não vou abordar a termodinâmica em detalhe porque não é preciso.

E depois partes destas especulações mirabolantes para, sem justificação, aparte de uma argumento de autoridade, dizer que o homem TEM de ser diferente do animal e que essa diferença é o espírito:

“lugar único do homem na natureza vai para além da capacidade de escolher e da inteligência. A ele corresponde um novo princípio que transcende aquilo que chamamos “vida” no seu sentido mais geral, e que chama de “espírito”, «um termo que inclui o conceito de razão, mas que, juntamente com o pensamento conceptual, inclui também a intuição das essências e uma classe de actos voluntários e emocionais como a bondade, o amor, o remorso, a reverência, a maravilha, a felicidade, o desespero e o livre arbítrio “

Como é que isto surge? Como sabes que isto é real? Isto é uma afirmação não provada. Até porque se sabe que as emoções são fenómenos mentais. Que emergem do cérebro e da interacção deste com o corpo. Destroi o lobo frontal e ficas sem eles. Ainda que te possas mexer livremente e até ter esta discussão.

E depois ainda dizer que “ (…)ou seja [o espiritual é], aquilo que está para além do espaço e do tempo”. Mas como é que sabemos isso? Isto é apenas mais um postulado.

E continuas com mais um apelo `a autoridade: “[o espiritual] não está mais sujeito aos seus impulsos e ambiente (…) é “livre do ambiente” ou “aberto ao mundo”». Sinceramente, “livre do ambiente”???

E etc, etc, etc…

Não vale a pena sequer estar a falar de termodinâmica ou sequer estruturas dissipativas (o que até faria mais sentido), se queres definir uma coisa que nem existe porque tudo aponta em contrário. Não há nada no conceito de entropia que sugira daí poderes tirar entidades extra-temporais e alheias ao ambiente que apenas existem em humanos!

Não há nada na ciência que sugira isso!

E quem quis misturar ciência com estes conceitos escorregadios foste tu. E a isso se chama pseudociência.

Se queres dizer que isso é filosofia é outra história, mas se bem que eu não seja um filosofo não me parece que seja filosofia andar a colecionar apelos à autoridade, non sequitur, etc.

Se me disseres que é teologia está bem. Mas não mistures com a ciência."

Respostas no "Que treta" e discussão:


http://ktreta.blogspot.com/2009/12/espiritual.html

(1) Sobre o espiritual no blogue "... em direção a um novo paradigma...": http://cienciareligiao.blogspot.com/

Update: O Miguel respondeu a esta crítica diretamente. Claro que não estou de acordo mas fica a nota para quem tiver curiosidade.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Feliz Natal


Previsões para 2010

Qualquer cientófilo convicto sabe que o tempo não é mais que uma dimensão relativa do mais abrangente espaço-tempo. Não há um lugar previligiado nessa rede de dimensões, nem nenhuma maneira mais correcta de a abordar. Apenas vivemos na crista da onda que o atravessa, num "surf" cósmico que alguns chamam vida. 

Ora, alguns iluminados como eu, podem ver a partir de dentro este continuum de espaço-tempo.

Aqui está a versão grátis das minhas previsões:

O Futebol Clube do Porto vai ser campião nacional. O Sporting também não. 

O primeiro ministro vai fazer um discurso sorridente sobre como a sua governação nos tem mantido fora de uma crise pior.

O Steve McIntire vai encontrar mais um erro grave no gráfico das temperaturas e a comunidade dos céticos vai gritar a plenos pulmões que a fraude foi descoberta. Mais tarde uma avaliação mostra que o erro era minimo e os resultados são pouco mais ou menos a mesma coisa que antes. 

O desemprego vai continuar alto.

Estudos cientificos publicados na European Journal of Bullshit vão mostrar que a acunpuntura é o melhor tratamento para doenças autolimitantes.

O racismo na India vai ser vendido ao Ocidente como sendo "um sistema de castas pitoresco" assente numa "cultura milenar de espiritualidade".

Vão surgir queixas de trabalho tipo escravatura na China.

O Papa não vai retirar a sua afirmação que o ateísmo foi o pior que aconteceu à humanidade.

Deus vai continuar a dar-nos o livre arbítrio para escafiar este  planeta a nosso bel prazer, e de fazer uma série de outras asneiras.

Berlusconi vai por uma prótese dentária.

Um "reality show" com criacionistas dentro de um barco cheio de animais vai ser um sucesso de audiências até o leão escapar da jaula.

Dualismos persistentes.

O conceito de alma é um pouco vago. Eu e algumas pessoas que pensam como eu, usamos o termo para designar o nosso próprio estado mental. Por vezes. Não é de facto um termo que use muito. Uso mais estado de espírito. E para o sentimento de nós próprios prefiro usar "consciência".

Mas o importante não é o termo que se usa, é o que queremos dizer com ele.

Se queremos dizer que existe uma alma, para além da nossa mente consciente ou paralela à nossa mente - o que se traduziria de facto em sermos 2 mentes conscientes em paralelo - então isso está errado. Só temos uma alma. E ao que tudo indica (mesmo tudo) esta é emergente dos processos cerebrais. É o resultado da função do cerebro.

Falar em duplicidade da mente ou em planos extraordinários (por postulado) são situações reminisscentes do dualismo - da existencia da tal alma, para além do cerebro.

Podem dar-lhe outros nomes, tal como a respeito da evolução o termo "designio inteligente" serviu para voltar a vender o criacionismo, pois eu agora leio textos que falam de uma alma imortal que os animais não têm mas que não - insistem - estão a falar de dualismo. Não, sem duvida. Devem achar que a alma é a unica coisa que existe, e aqui estamos de acordo. Mas não é nem imortal, nem exclusiva do ser humano (*) - nem independente do cerebro ou sequer minimamente autónoma. As outras propriedades vêm porque era bonito que assim fosse e porque introduzir caracteristicas intestáveis e sem efeitos apenas a elas atribuíveis é sempre facil. E para resolver o ultimo problema, podem sempre descobrir-se umas lacunazinhas.

Negar este dualismo não é o mesmo que dizer que a mente e a consciência são o cerebro. Isso é um pouco impreciso, embora seja aceitavel como metáfora. Porque a mente equivale ao cerebro mas não é o cerebro, no mesmo sentido em que a luz não é a lampada.

É resultado da função, tal como um campo magnético resulta do movimento de cargas eléctricas mas desaparece se estas ficarem estacionárias.

O cérebro são milhares de redes neuronais, formando circuitos complexos que interagem com o corpo, quer via sanguinea - hormonas - quer via receptores nervosos (que são neurónios especializados). Esses circuitos formam sistemas e esses sistemas interagem a vários niveis. Dessa interação entre vários sistemas, emerge a consciencia.

O processo não está completamente definido. Mas o esboço está completo. Não há espaço para sermos algo que vem de fora. Se a alma é a consciencia, ela existe, mas "vêm de dentro". E morre comnosco. Por vezes até antes do corpo.

Quem teve a infelicidade de conviver com pessoas que sofreram lesões cerebrais, tais como um AVC ou um tumor, pode ver como a alma se desfaz ainda antes do resto do corpo. E de acordo com o comportamento, com as alterações da alma, os neurologistas podem prever onde está a lesão.

Em alguns sítios, o que desaparece são as emoções. Noutros a capacidade de dizer o que se quer (e uma pessoa pede um garfo quando precisa de uma caneta, sem perceber a asneira) noutras a capacidade de reconhecer e compreender o próprio corpo (como pessoas que ficam paralíticas de um membro mas insistem e acreditam que ele ainda se move sozinho.

Às vezes o tempo pode ajudar a recuperar algumas faculdades perdidas, ou mais frequentemente a lidar melhor com elas e a contornar os problemas. Em caso de lesões progressivas, vamos vendo o desaparecimento gradual da função do cerebro enquanto a lesão física avança.

As alterações de personalidade em alguns casos são devastadoras. A pessoa que conheciamos deixa de ser a mesma. A perda da moral em lesões do lobo frontal é um caso típico e famoso na literatura.

Dizer que além disto há uma alma, algo que está ali à volta e que além disso é imortal e nos diferencia dos animais (1) é uma asneira, francamente não suportada pela investigação científica. E refutada em larga escala.

No entanto, a defesa do dualismo alma/corpo é uma prática da Igreja católica (1)(2). É na minha opinião a questão central que vai opor a ciência ao catolicismo nos proximos anos/décadas. Depois do criacionismo, do geocentrismo e de outras quantas tretas, este é o debate que se segue.

Admito que até à pouco tempo não havia muita informação para compreender como funcionava o cerebro. Os psicologos tinham uma abordagem tipo "caixa preta", isto é, estudavam-se os resultados como resposta aos estimulos, sem olhar para "o que se passa lá dentro" - daí o termo caixa preta.

Isso acabou. Embora haja muito para compreender, as lacunas do conhecimento não são grandes o suficiente para fazer passar por lá uma alma. Mais facil seria fazer passar um camelo pelo buraco de uma agulha.

Além da informação disponivel através do estudo de lesões que permite avaliar como funciona o cerebro se "desligarmos" este ou aquele sistema, temos meios para o ver a funcionar em tempo real enquanto pedimos a voluntários que pensem em determinados problemas e cumpram determinadas tarefas. Observar as regiões do cerebro que estão activas é feito com recuroso a tecnologias de tomografica de emissão de positrões (PET-Scan) e ressonância magnética funcional. (fMRI).

Estas tecnologias cientificas colocam a psicologia ao nível de ciência "dura", tirando a consciencia e a mente da "caixa preta", e mostrando a sua intercepção abrangente com a neurologia. E a neurologia tornando-se por sua vez das areas mais fascinantes da ciência actual.

Porque a consciencia é fascinante, seja como for que é produzida. Isso nunca estará em causa. Quem quer que tenha medo que a compreensão pode levar à subvalorização está errado.

Assim como achar que manter a consciencia como uma alma sobrenatural que nos proporciona vida eterna, é o caminho racional e lógico:

Certamente que vamos ver muitos argumentos de "dualismo das lacunas", e de "wishfull thinking". Até que eventualemente, como nos outros casos, a ciência seja reconhecida.

(*) Alguns animais são capazes de processos cognitivos complexos com alguma lógica. Possuiem memória de trabalho e de longo prazo. E são capazes de se identificar a si próprios num espelho. Por exemplo os chimpazés, o golfinho ou o cão. Serem capazes de reconhecer o "self" é aceite como o reconhecimento da consciencia. Mostra que há uma identificação do próprio ser para além de um fluxo de estados mentais a quatro dimensões sem "supervisor". Além disso é minha suspeita pessoal que o teste tem falsos negativos. Isto é, que haja animais incapazes de reconhecer a sua imagem no espelho mas que têm uma consciencia superficial do que se passa consigo e que distinguem isso como sendo o seu "self". Penso que o gato poderá estar neste grupo, mas é espéculação minha. Os gatos não são capazes de se identificar ao espelho.

(1) http://dualismos.blogspot.com/2007/12/dualismo-corpo-alma-texto-sntese-do.html

(2)http://cienciareligiao.blogspot.com/2009/12/num-outro-post-referi-triade-ecologica.html

Leitura sugerida neste blogue o post "dualismo das lacunas", baseado num texto do Steve Novella:

http://cronicadaciencia.blogspot.com/2009/01/dualismo-das-lacunas.html

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Provar uma negativa.

Acontece com alguma frequência alguém vir dizer que não se pode provar que algo não existe. Que só se pode provar que existe.
Antes de mais nada covém fazer o reparo que "prova" num sentido muito estrito só existe em matemática. Se estamos a falar do tipo de prova que aceitamos quando fazemos uma comprovação empirica de uma preposição, então podemos provar que há coisas que não existem.
O que quero dizer é que em ciência se pode provar uma negativa. Como?
Mostrando que as coisas não estão onde deviam estar.
Por exemplo: Cavalos alados. Como provamos que não existem?
Temos de pensar. Se existirem cavalos alados, em que lugar do universo é que era suposto existirem? Acerca de que planetas sabemos que sequer têm seres vivos à sua superfície? E onde há pelo menos um da familia - o cavalo?
Na terra.
Cabe agora demonstrar que não existem cavalos alados na Terra. Como? Recolhendo relatos sistemáticos sobre o que se passa sobre a superfície do planeta (e da atmosfera não precisamos relatos do subterranêo - são alados) e verificando se qualquer relato positivo se é consistente e se se pode confirmar. Se passado um tempo razoavel em que isto é feito, ainda não tivermos relatos positivos de cavalos alados para além de um ou outro relato anedótico, podemos dizer que na Terra, não existem cavalos alados.
E que se não há na Terra, ainda mais improvavel é que haja algures no universo longe daqui. Tal como não espero que haja noutros planetas sequer cavalos como os nossos.
Claro que podem estar todos escondidos dentro de roupeiros, mas isso não é plausível. 
Seria mais plausível argumentar que podiam ser pequeninos (apesar de ter a forma de cavalos), noturnos e ainda estarem por encontrar numa floresta densa. Mas isso continua a ser improvável. Porque tinham de ser mesmo muito pequenos dado o trabalho que tem havido para palmilhar todas as florestas e deixar estratégicamente posicionadas câmaras de infravermelhos ligadas a detetores de movimento para fotografar tudo o que mexe à noite. E então, se achassemos que apesar de tudo ainda era possivel, tinhamos de perguntar: E como surgiram esses cavalos alados? Dos quais não existem sequer fosseis que se lhes assemelhem, ou parentes vivos mais próximos que um cavalo? Se foi por magia, isso também não é plausível. Porque por mais que se tenha procurado, nunca se encontrou nada que acontecesse por magia.
E depois, é tudo acerca da plausíbilidade. Certezas absolutas não há. Em nada. E por isso fez sentido começar este texto com a nota que há quem considere que prova apenas existe em matemática. Se bem que em português se use "prova" como tradução de "evidência".
O que importa é que podemos ter como facto que algo não existe - com o mesmo tipo de certeza com que podemos ter com o facto que algo existe. Em ciência e em filosofia.
Por vezes basta mostrar que há algo no lugar daquilo que dizemos que existe e que não corresponde à descrição. Por exemplo os miasmas da homeopatia. Aparte nunca terem sido demosntrados, existe uma explicação da patologia e das doenças  hoje tão completa e consistente que requer um desajeitado "apelo à ignorância" (1)para insistir que eles existem.
Tenho escrito sobre a particula de Higgs e da sua investigação.
Se ela não aparecer nas condições que se espera que apareça, mesmo após repetição exaustiva (isto é importante, a procura tem de ser sistemática) vão surgir duas consequencias. Uma é a análise da anomalia, ou seja, alguns cientistas vão tentar perceber porque é que se a particula existe não foi detectada. É sempre bom haver teimosos, é para isto que servem. Às vezes lá se mostra que não era uma anomalia e não foi detectado isto ou aquilo porque havia uma explicação obvia. Outra coisa é que outro grupo de cientistas vai abandonar a ideia e deixar cair uma parte variavel da teoria de onde emerge o campo de Higgs. E este é o caso que vai ser mais perseguido certamente. Vai mudar o sentido da investigação.
Ninguém está a pensar que não se pode provar que a particula não existe. Se não aparecer, essa vai ser uma das conclusões. Diria mesmo que daqui a uma geração, se continuar sem aparecer, a ideia vai cair no descrédito total e completo.
A minha abordagem foi brincalhona. Aqui deixo o link para o que o Desidério Murcho escreveu no "De Rerum Natura" quando alguém lhe disse numa discussão que não se podia provar uma negativa, (o que não o deixou nada brincalhão):
http://dererummundi.blogspot.com/2008/10/provar-uma-negativa.html
(1) apelo à ignorancia: Se não sabemos P não podemos concluir P. Isto é, a ignorancia acerca de um assunto não é justificação para uma afirmação qualquer que se faça sobre esse assunto. Tipo "se vi um ovni, é porque existem extraterrestres" ou "Se não sabemos como teve origem o universo então Deus deve existir".

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Os limites da ciência - uma opinião.

Outra questão com que me deparo frequentemente é a dos limites da ciência. Essa questão aparece em qualquer contexto mas quase sempre para dizer. A ciência acaba aqui, a partir daqui são coisas que só podemos saber através de... Outra coisa qualquer.

De notar que a questão aqui não é o relacionada com o que é ou não ciência ou o que é ou não cientifico - porque há quem queira por tudo no mesmo saco. É mesmo sobre o que pode ou não ter base cientifica, sobre se a ciencia se pode ou não pronunciar numa determinada area.

Podem ter-se respostas cientificas em tudo? Acho que não. Há coisas que não têm uma resposta unica, são perguntas abertas com resposta livre, outras têm demasiados imponderaveis, outras não são perguntas que tenham sentido. Mas onde está esse limite para o conhecimento científico?

A minha resposta é que não sei quais são. Mas sei que postular um limite é enganador.

Dizer que a ciência não pode explicar isto ou aquilo, mesmo em relação a coisas que de facto ainda não têm explicação, é potencialmente um erro. Há coisas que podemos mostrar estarem fora do limite da ciência, nomeadamente aquelas que representam opções humanas, determinados aspectos dos padrões culturais, (aquilo que são questões normativas).

Estão fora do âmbito da ciência porque como conhecimento são indiferenciadas. Se eu quiser gelado de morando em vez de chocolate para a sobremesa, isso não é uma questão cientifica na medida em que é igual se eu quiser um ou outro. É uma escolha minha, aparentemente livre.

Outra questão que eu vejo, é que entre as escolhas puras, arbitrárias e normativas, podem haver algumas que não são escolhas. Que são realmente condicionadas, tão fortemente, que não podemos dizer que as várias soluções são equivalentes. Porque é que eu escolho comer? Não me parece que seja uma escolha muito livre... E por aí fora. A razão porque eu escolho comer é do ambito da ciência.

Que numero vai sair no totoloto? Aciencia diz qualquer coisa a este respeito. Que vai sair um numero possivel de entre aqueles que estão dentro do intervalo determinado pelo que está escrito nas bolas. E que se todos as bolas forem iguais e forem lançadas ao mesmo tempo e ainda se não houver mais nenhum mencanismo para tornar uma bola especial, o numero que sair é totalmente aleatorio. E cada numero tem a mesma probabilidade de sair que qualquer outro. Isto pode não parecer, mas já é dizer muito. O que não pode dizer é exxactamente qual é esse numero. Há demasiadas ponderaveis envolvidas. É uma qestão imponderável de facto.

Entre estas duas questões que dei de exemplo, e a massa do electrão (que sabemos cientificamente), onde está exactamente a linha que diz onde acaba o poder de examinar as coisas cientificamente?

Admitidamente, não vislumbro uma linha definida a dizer onde começa e onde acaba aquilo que nós podemos saber e prever através da pesquisa sistemática do universo.

Mas partir daí para aceitar uma afirmação de "a ciência não pode explicar isto" ainda é um passo largo. Porque muitas vezes, essas afirmações se referem a questões empíricas factuais para as quais não há obviamente um limite lógico para o que podemos ou não saber.

E estou a pensar na consciência humana, na origem da vida, na origem do universo, na evolução das espécies e até em alguns aspectos da moral, ética e da estética (que não são quase de certeza escolhas) .

A ciência entrou em áreas que clássicamente eram do domínio da filosofia, como por exemplo a análise da linguagem, ou da consciência. Negar isso é tolice. E negar que se possa saber mais do que aquilo que já se sabe é tolice ainda maior. Porque, apesar de não sabemos até onde podemos ir, podemos ver coisas que estão aqui mesmo à mão e antes estavam para lá de uma "cortina de aço". Podemos ver como a neurologia se aproxima a passos largos exclarecer vários "mistérios" da mente. Podemos ver como a bioquímica se aproxima a passos largos de explicar a origem da vida.

Não que um dia fiquem todos os pormenores por esclarecer, mas que a explicação cubra satisfatóriamente as questões mais importantes. E refute convincentemente hipóteses concorrentes que vão surgindo.

Isto não é um argumento pela "autoridade futura", tipo um dia a ciencia vai explicar isto. Isto é um argumento pelo que ela explica hoje e que sugere que nós não possamos fazer previsões sobre os seus limites com alguma margem de segurança.

Essas previsões, quando feitas por não cientistas assemelham-se mais uma uma espécie de "cientofobia", em que o slogan "a ciência não explica tudo" parece proporcionar algum conforto. Indiferentes ao facto que se a ciência não explica tudo, não é prova que não possa vir a explicar determinada questão, não posso deixar de tentar perceber as motivações que podem levar as pessoas a querer fazer afirmações vagas e falaciosas deste género. Ou pura e simplesmente postular a seu "bel prazer" o que a ciência pode ou não pode saber. Apesar de históricamente essas previsões e postulados dos seus limites sejam tão bons como a previsões sobre a data do fim do mundo.

Creio que para alguns, há uma espécie de proteção do mistério, de que existem determinadas explicações que são indesejadas, como se pudessem tirar o maravilhoso e o espanto do universo e da vida. Eu não vejo as coisas assim. Eu quero ver o universo tal como ele é. Não quero proteger a todo o custo a ideia que tenho dele, por muito que ela me pareça linda e maravilhosa. Não vejo maneira de que haja explicações que reduzam a sua complexidade a algo menos que incrível ou a consciência humana ou emoções humanas a algo menos que... Nem tenho palavras. Mas aquilo que se passa entre as nossas orelhas é provavelmente do mais complexo que há por todo o universo. Mesmo que a conciencia seja uma elaborada ilusão, ela é sem duvida maravilhosa. E eu não acredito que o seja. Ilusão é aquilo que não é real mas parece ser. E a consciência é o que nos permite dizer "eu penso logo existo". Eu não ia por aí. O livre arbítrio já é outra história.

Concluindo:

Onde está o limite da ciência? Até onde podemos ir?

Não sei, faço apenas uma pequena ideia que tentei esboçar neste post. Mas uma coisa é certa. Se se pode alguma estudar algo, produzir conhecimento sobre algo, então a ciência parece encontrar maneira de lhe lançar a mão. E sem escrúpulos para com outras formas de conhecimento, apropriando-se do que se pode comprovar ser verdade, determinando quase solitáriamente qual o caminho a seguir para ter novas respostas. Digo quase, porque a filosofia pode e deve colocar questões. Mas a história recente também mostra que são os próprios cientistas a colocar as próprias questões que vão testar no papel ou no laboratório.

Não sei o que podemos vir a saber ou não. Mas sei que determinar o que podemos saber ou não antes de investigar está errado. Os limites da ciência não precisam de ser profetizados mais que fim do mundo. Quando lá chegarmos, chegamos. Construir argumentos baseados nisso é falacioso. Até podermos demonstrar correctamente onde eles estão.

O problema da origem.

Porque existe "algo em vez de nada" é talvez a pergunta final para a pesquisa científica. No post anterior expliquei, ou pelo menos tentei, (sem recorrer a dizer que é um "apelo à ignorância"), porque é que umas respostas são mais plausíveis do que outras e dizer que é porque Deus quer, não explica nada. A não ser que possamos constatar isso como um facto.

Mas a questão que me foi posta, pelo professor Alfredo Dinis (1) desta vez, mas que me tem sido repetida várias vezes é a seguinte:

"Estes [ateus] rejeitam um Deus que tenha origem em si mesmo, mas aceitam um universo que se originou a si mesmo." Sim. Porquê?

Porque, se precisamos de um Deus para criar o universo, é porque considerámos que o universo TEM de ter um criador. E esta assunpção ou está errada ou não leva a lado nenhum.

Se considerarmos que nada existe sem criador, estamos a cair numa regressão infinita em que cada Deus tem de ter o seu próprio criador. Se Deus não precisa de criador então estamos a aceitar que nem tudo precisa de criador.

A partir do momento em que temos de aceitar que existe alguma coisa no universo que não precisa de criador, temos de pensar muito bem se a melhor explicação para isso é postular mais uma entidade ou continuar a procurar explicação no seio daquelas coisas que já sabemos existirem.

Nomeadamente, sabemos que o universo existe como matéria de facto. Mas não sabemos que Deus existe como matéria de facto. Por isso, não faz sentido criar uma entidade com as características que nos convém - não precisar de criador - para ter a solução para um problema.

A solução que requer mais entidades desnecessárias é a menos elegante. Porque, repito, se temos de aceitar que existe algo que surge sem criador, isso pode muito bem ser o Universo.

Ainda que seja a menos comfortável e aparentemente menos satisfatória. Mas é muito mais simples e trás menos problemas. E pelo contrário, fornece uma questão para a qual podemos encontrar resposta. É até uma abordagem mais fecunda que considerar que "foi Deus" - embora não seja esta a razão.

De facto a física e a cosmologia trabalham com soluções que apontam para que o Tempo tenha começado com o próprio universo. Logo antes do universo aparecer, pura e simplesmente não havia "antes".

É como questionar o que havia a norte do pólo norte. É uma pergunta sem sentido. Talvez como seja uma pergunta sem sentido perguntar se Deus podia existir antes do próprio Tempo... Não por incapacidade de Deus, mas porque não havia "antes." Não havia passado, presente ou futuro, não havia tempo.

Há perguntas que se podem pôr e que parecem que têm sentido, mas que na realidade não têm sentido nenhum. Porque invariavelmente se considerarmos a questão pertinente, precisamos encontrar algo que não precise de origem. Que exista porque tem de existir.

E porque é que Deus tem de existir? Bem, parece que é porque alguém tem de criar o universo. Voltamos ao mesmo. Já para não falar que se torna curioso o facto de termos sido nós a dizer que existe algo que não precisa de ser criado, que entidade é essa e como ela é em alguns aspetos como bondade e justiça (!?). Avançamos na compreenção da origem do universo? Não, mas temos umas novas questões para resolver muito curiosas:

"Pode Deus criar uma pedra tão pesada que Ele próprio não consiga levantar?"

Todos os sistemas têm a sua afirmação godeliana - ou seja, uma afirmação sem resposta possível dentro do próprio sistema - talvez tenhamos de aceitar isso. Ou talvez dêvamos pura e simplesmente acreditar que há uma resposta e continuar à procura. Ou melhor, que se não procurarmos, não vamos encontrar nenhuma resposta.

Porque postular uma entidade criadora especificamente para o efeito é obviamente um paliativo. Não resolve nada, não explica nada. É como dizer para outra coisa qualquer: "é milagre". Não acrescenta uma gota de compreensão.

E agora sim, faz sentido acrescentar:

Já para não falar de que defende-la, na ausência de uma estrutura racional de forte base factual e lógica é uma falácia de "apelo à ignorância" - isto é: não podemos justificar algo com aquilo que não sabemos. Apenas com o que sabemos.

Não sabemos responder à questão se o universo tem de ter um criador ou não. Não sabemos se é preciso postular uma entidade que não precisa de ter criador para solucionar isso. Pode até ser que essa questão esteja a ser mal abordada. Mas não é "não aceitar que Deus possa existir sem criador e que o universo pode."

É dizer que se algo não precisa de criador então é mais simples pensar que pode ser o próprio universo. Esse existe de certeza.

(1) em companhia dos filósofos:

https://www.blogger.com/comment.g?blogID=36488527&postID=4830720744416011234

A partícula de Higgs e Deus.

Quem se questiona ainda para que serve o colisionador de hadrões (LHC) ou porque chamaram "a partícula de Deus" à particula de Higgs, convido-o para continuar a ler. Pois este post é sobre isso.

Quem ja sabe porque o LHC é importante, convido na mesma a ler e a comentar. Este é um post mais pessoal que a maior parte do que tenho escrito, na medida em que é mais opinião que factos.

O colisionador de hadrões, certamente serve para mais que "apenas" procurar a particula de Higgs. Vai procurar tambem sinais de dimensões extra e também... Qualquer outra coisa que apareça. Mas a particula de Higgs é das mais importantes e por si só justificava aquele investimento todo. Porque?

A particula de Higgs é a particula portadora do campo de Higgs. E o campo de Higgs é explicação para grande parte daquilo que nós observamos neste universo se comportar como se comporta. Explica a inércia dos corpos, explica a expansão rápida do Big Bang e explica porque a Luz não tem massa. Esta envolvido na existencia da gravidade e portanto na curvatura do espaço e do tempo.

Porque segundo a teoria, o campo de Higgs está em todo o lado, mesmo no vácuo, e é este campo que dá origem à massa dos corpos.

Mas esta particula nunca foi verificada experimentalmente. A entidade explicadora de uma boa porção da fisica nunca foi observada, é uma entidade puramente teórica. Sabemos que muito provavelmente existe porque matemáticamente as peças encaixam todas com uma grande perfeição, desde o princípio dos tempos até agora.

Estas características e propriedades da particula de Higgs ja são o suficiente para lhe chamar a partícula de Deus. E eu tenho-me lembrado muito da particula de Higgs quando abordo a questão da existencia de Deus - uma vez que eu sou daqueles que acham que se Deus existe, então não há razão postular que isso não seja do ambito da ciencia.

São semelhantes, porque hipoteticamente, explicam muita coisa de uma só vez e nunca foram observadas. Até que ponto é que podemos dizer que uma destas entidades é mais real que a outra?

Os criacionistas consideram que não é possivel explicar a macro evolução sem recorrer a Deus, outros, como muitos católicos, que não podemos explicar a consciência sem recorrer a Deus, outros - quase todos os religiosos - que não podemos explicar porque "existe algo em vez de nada" sem recorrer a Deus.

Todas as alegações são mais ou menos faceis de refutar excepto uma. Porque existe algo em vez de nada? Porque existe algo que não precisou de criador? Será que só é possivel explicar isso recorrendo a Deus?

Agnósticos muito convictos como eu, não consideram util repescar a hipotese Deus sempre que um problema não parece ter solução. Porque ao fazermos isso, estamos constantemente a introduzir mais problemas que os que resolvemos - Deus é insondavel... E a por uma pedra no assunto sem ter acrescentado conhecimento sobre ele.

Ficamos com explicações ad-hoc para cada caso particular, mas que não nos permitem conhecer um problema ou um processo ao ponto de ser capaz de fazer previsões sobre ele. Se chove porque Deus quer, não há maneira de saber se amanha vai chover. É o seja o que Deus quiser.

A questão específica aqui, é que a questão "porque existe algo em vez de nada", parece estar por si só num plano para além daquele que é a explicação do "como" as coisas se passam.

Não é tanto o problema de ter de postular uma entidade que não precisa de ser criada, porque essa tanto pode ser Deus como o Universo, e se Deus não precisa de ser criado, continuamos sem saber porque é que ele tem essa caracteristica. Idem para o universo claro. Caso o universo não precise de criador continuamos, à data, sem resposta para isso.

Mas eu proponho que a ciência actual resolve mais problemas se não tivermos de atribuir a criação a Deus, (que apenas "resolve" recorrendo a um postulado sobre a sua vontade: "Porque Ele assim quis") .

A ciencia explica mais coisas porque a partir daí, do momento original, a física desenrola as suas formulas como um reação em cadeia até aos nossos dias, sem precisar de Deuses. E a ciência tem até uma maneira muito especial de dizer que o universo existiu sempre: O proprio tempo surgiu quando surgiu o universo. O espaço idem. Antes não havia um nem outro. A pergunta: "o que havia antes do universo" não tem sentido de ser posta.

Fico com a sensação que Deus só é uma entidade nesseçária para explicar que algo existe, e não o contrário. Mas isso, é se for de facto preciso responder à pergunta, "porque é que existe algo em vez de nada". Talvez não tenha resposta. Porque se recorrermos ao que podemos saber com um grau de certeza elevado, Deus não está lá. Deus é que não existe. Na melhora das hipotese ficariamos com "porque é que existe Deus?". Mas como não sabemos se Seus existe, proponho que não precisemos de ir tão longe. Deus não é matéria de facto. E nada mais parece ser capaz de resolver a questão.

Podemos aceitar a existência de uma entidade que está em todo o lado, participa em tudo, dá origem às propriedades que verificamos no universo e não ter provas diretas dela? É esta a grande comparação entre Deus e a particula de Higgs que me intriga. (E que me admira ainda não me ter sido usada por defensores da hipotese Deus.)

Isto não é equivalente ao problema dos criacionistas de não se "ver" a evolução ou dos dualistas de não aceitar que a consciência seja emergente "apenas" do funcionamento do cerebro. Não é equivalente, por razões que não me interessa agora aprofundar mas que estão ligadas ao facto de a evidencia ser quase direta nestes casos - são as razões que permitem considerar a evolução matéria de facto e no meio da neurologia não se falar de alma. (tipo: não se preocupe que este AVC não lhe afectou a alma...)

A particula de Higgs, aos meus olhos, encaixa melhor nesta questão do que outras questões da ciência. Não é preciso pensar muito para perceber porquê. Porque acreditamos na particula de Higgs e não em Deus da mesma forma? Podemos acreditar que a particula de Higgs é real, se ainda não foi detetada diretamente, só porque, em ultima análise precisamos dela para explicar uma série de coisas?

Porque aceitamos, nós os ateus e agnósticos uma entidade e não a outra?

A minha resposta, é a plausibilidade. E a plausibilidade que é dada de acordo com a força do modelo racional que está por trás.

Se procuro respostas que me satisfaçam racionalemente, tenho de ter a capacidade de distinguir umas das outras por motivos racionais. E se foi um processo racional que me levou a comparar as duas, tenho de aceitar o que me diz a matemárica e a lógica se as aplicarmos ao que podemos saber de facto. E o que elas dizem é que a particula de Higgs existe. Para além da nossa necessidade de a postular para explicar a massa ou o Big Bang.

Se Deus tivesse uma base tão sólida de fundamentos teóricos a suportar a sua existencia, penso que teria de estar no mesmo grau de plausibilidade que a particula de Higgs. Assim penso que tem plausibilidade baixa. E por isso, apesar de considerar sempre a hipotese Deus e até, potencialmente, estar a criar aqui mais uma lacuna para servir de argumento aos crentes, continuo um agnóstico convicto. Convicto que a plausibilidade da hipotese Deus é demasiado baixa para que utilizemos como se fosse real.

Ainda estou a pensar sobre este tema. Talvez ainda volte a ele.

Mas voltando ao princípio, da nessecidade de encontrar experimentalmente a particula de Higgs - é um preceito da ciência. Talvez não seja possivel - o assunto é debatido - mas sem duvida que vale a pena fazer esforços para a encontrar. Porque se ela existe - e parece existir para além do que dá ou não geito - deve haver uma maneira de o verificar. Há e estasse a tentar. Não vamos dizer que é assim e acabou-se, está o assunto arrumado. Porque até prova em contrário, nunca está. E aqui a particula de Higgs e Deus são assuntos completamente diferentes no que proporcionam ao conhecimento humano do universo. Um não é um mistério - sabemos o que faz, como procura-lo, como actua, etc. O outro é o mistério do que "seja o que Deus quiser". Não é só implausivel, também não acrescenta nada.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Climategate III (Afinal há mesmo conspiração)

É com grande pesar que anuncio que sempre encotrei os emails que provam que houve conspiração para além de qualquer duvida razoavel.

Ca estão:

from Mann
to Briffa

Jan 09

Brifa ma' men. Tá-se mal. O ultimo urso polar que fiz desaparecer deu muita luta e levou-me um braço. Só por causa disso em vez de lhe limpar o sebo vendi-o ao mercado de medicina alternativa asiático para produção de afrodiziacos.

Mas a razão porque te escrevo é que acabou-se a lenha e não tenho conseguido derreter gelo aqui no polo como combinado. Pede aos russos mais lenha daquela de Yamal que eu aproveito e ponho mais uns dados no gráfico antes do os queimar.

From Briffa
To Mann

Jan 09

Mann ma' man. Mas o que é que tu fazes a tanta papelada e lenha para queimar que eu te mando? Pensas que isto é fácil? Estou farto de andar para aqui doente e tudo e cada vez que o (aquele-que-tu-sabes-quem-é) diz alguma coisa vêm chorar para cima de mim. E eu doente. E ainda queres mais lenha? Com o péssimo trabalho que estás a fazer? Estou aqui, estou a pagar a uns chineses para derreter o gelo que tu não consegues. Sabes por acaso que o nível do mar mal subiu? Que ainda há muitos ursos polares? Outra coisa. Não me vais dizer que ainda não aprendeste a usar as caldeiras novas pois, não? Sabes que a lenha é para por por dentro e não em cima, certo?

From Briffa
To Jones

April 09

Jones ma'man. Estou preocupado com o declínio do Mann. O alzheimer está pior. Temos de esconder o declínio. Estou farto de o aturar mas afinal ele sempre é casado com a minha irmã.

From Jones
To Briffa

March 09

Não gosto que me chames maman. Raios te partam. E se faz favor não fales no nosso projesto de derreter gelo do polo norte para fazer subir o nivel do mar com caldeiras portuguesas e lenha dos russos. Escreve tudo como se fosse para ser lido em publico. Achas que estes mails não estão a ser lidos por todo o planeta?

Não te procupes com o Mann. Manda-lhe lenha que é para ver é se ele não me chateia a mim. Estou demasiado ocupado a tentar desertificar o norte de africa e sulda europa com secadores de cabelo e isto é maior que o que eu pensava. Para um só homem não dá.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Climategate II

Mais uns emails lidos, mais uns argumentos de um lado e de outro e mais a certeza tenho que naquelas trocas de ideias e comentários não está a prova de nenhuma conspiração. Acho mesmo que a opinião que escrevi ontem é provavelmente a que corresponde a um dos piores cenarios possiveis. 

A verdade é que com a informação disponivel não é possivel concluir exatamente o que significam aqueles emails. Há investigações em curso e é prudente esperar até que os resultados dessas investigações sejam conhecidos. 

Uma das razões que me motivou voltar a escrever em tão pouco tempo sobre o dito "climategate" foi ter encontrado um site com uma data de emails catalogados, e que apesar de ser virado para uma opinião demasiado radical, me tem sido ultil, por isso deixo aqui o "link":

http://www.prisonplanet.com/bishop-hill’s-compendium-of-cru-email-issues.html

A outra foi defacto a percepção cada vez maior de que é muito cedo para concluir sequer que a informação foi manipulada. Eu acho que foi, mas pouco. Acho que a "pera foi dourada" de modo a que a mensagem fosse mais clara. Não há indicios que nada mais dramático que isso tenha ocorrido, mas compreendo agora que mesmo que isso seja um facto, não há evidencia forte que a sustenha. Queria deixar isso claro. Como disse ontem, parece-me que a unica coisa que fica provada é que existem uma rede social forte e relativamente coesa entre os protagonistas da ciencia climática. Mas quem conhece outras areas da ciência sabe que esta é a norma. O que parece que falta aqui é haver mais redes competidoras. Os cepticos têm feito um péssimo trabalho, e isso também é uma conclusão que tiro da leitura destes emails. Por vezes acertam em alguma coisa, mas vulgarmente apenas irritam os cientistas. Mas é como tudo, se derem muitos tiros à sorte, provavelmente acertam em alguma coisa. E erros existem sempre.

Outra coisa que não deixei muito claro foi porque considerei que a ciencia climática de base se matem sólida e o problema continua tão grave quanto antes.

Mesmo que o gráfico de Mann, o hockey stick, tenha sido "embelezado" e nós não estejamos a viver as temperaturas mais altas dos ultimos 2000 anos, que por exemplo estamos apenas entre as 10 mais altas ou que não se possa de todo contruir um gráfico plausivel das temperaturas para lá de 7 uo 9 seculos atrás, comtinuamos com um problema grave.

Sabemos que o CO2 aumenta a temperatura, sabemos que a temperatura média tem subido desde que a começamos a medir (excepto os ultimos 2 anos, mas esta decada em média foi a mais quente), e temos de tomar uma decisão de se podemos continuar a dizer que largar CO2 para a atmosfera como se não houvesse problema nenhum é sensato. Para mim o que não é sensato e completamente infundado é dizer que o CO2 não tem nada a haver com isto e que não há razão para parar. 

É um pouco como encontrar o virus no nariz e dizer que a rinite pode ter sido causada por outra coisa qualquer e que o virus não é o responsavel. A verdade é que a rinite pode ter sido causada por outra coisa qualquer, mas provavelemte o virus é o responsavel. E se não for o unico, provavelmente tem um papel na inflamação.

Idem para o CO2. Dizer que o CO2 está a aumentar, que as temperaturas estão a aumentar, mas que a correleção é uma coicidencia é irracional. Até porque mesmo que seja coicidente, e haja uma outra causa para o aquecimento global (o sol?), é um facto que nós só podemos estar a contribuir. É racional tentar deixar de contribuir e fazer o que podemos para não causar alterações potencialmente irreversiveis na face do planeta.

Isto se queremos estar todos vivos. Porque o fim da humanidade tambem me parece que não vai acontecer. Ainda. A ideia mesmo é que não se deixe uns milhares sem salvação.

PS: Os emails são muito interessantes. Vale a pena ler. São é imensos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Climategate.

Gregor Mendel estudou 7 caracteristicas da ervilheira. Através de várias gerações, foi anotando os resultados e tirando conclusões. O seu trabalho, apesar de negligenciado durante décadas, é hoje considerado pioneiro na genética. Ainda assim, Mendel manipulou os resultados. Quase de certeza. Ele estudou 7 caracteristicas e a ervilheira tem 7 cromossomas. Estudou uma caracteristica por cromossoma e cada caracteristica pertence a um cromossoma. Não estudou duas caracteristicas que tivessem assentes no mesmo cromossoma. Se o tivesse feito, não teria podido escrever as leis da genética mendeliana. Porque a hereditariedade das carateristicas só é independente se estiverem em cromossomas diferentes. Se duas caracteristicas estiverem no mesmo cromossoma, naturalmente, são herdadas juntas. A não ser que haja "crossing over", mas isso é outra história. Qual era a probabilidade de ele, por sorte, ter escolhido exactamente as 7 caracteristicas da ervilheira que permitiam escrever a "2ª lei de mendel"? É aceite que a probabilidade é baixa. Ele deve ter feito batota. 

Isso esta errado. Mendel não terá ganho nada em "limpar" os seus dados para ter resultados mais conclusivos. Na altura ninguém quis saber de qualquer maneira, e passados estes anos, a importancia do trabalho dele é reconhecida, não por ele ter manipulado informação, mas apesar de ele ter manipulado informação. Poderá ter entendido que só ele poderia compreender o aparecimento de anomalias inexplicaveis à epoca. E previu corretamente muita coisa, como a meiose aquando da formação dos gametas, a existencia de alelos e de formas dominates, a existencia de uma unidade fisica da hereditariedade - a saber o gene, etc.

Esta longa introdução é porque eu vejo um paralelo com o "Climategate". 

O centro de investigação do clima do  Reino Unido, na sigla original, CRU, foi visitado por hackers que puseram em circulação uma data de emails e informação trocada entre alguns cientistas do clima. Existem indicios de que a altura em que essa informação foi libertada para o publico foi de proposito para ter o impacto máximo na cimeira de Copenhaga. Existem indicios de que os emails e informação libertada foram escolhidos - não existem emails, nem um, sobre informação que não seja sobre o clima.

Antes de prosseguir quero deixar aqui uma ressalva. Ou duas. Isto é um "post" de opinião e a minha opinião é baseada em uma série de fontes secundárias.  Mas tinha vontade de escrever sobre tudo o que li até este momento. E não li os emails (são imensas páginas de texto e informação). Apenas ja li dezenas de citações em sites dos ditos cépticos do clima, e as interpretações de uns e de outros.

O que eu vejo não é bonito.Parece-me que tenho de concordar que existem indicios de haver manipulação de informação, com os cientistas do clima a decidirem o que deve ser divulgado e como deve ser divulgado. Sem sombra de duvida existe uma rede social, estes emails provam isso. O que não provam, na minha opinião,  é que o aquecimento global antropogénico seja uma coisa inventada. Pelo contrário. Dá-me a entender que eles acreditam plenamente no que estão a fazer e que não querem ser mal interpretados. Dá-me a entender que têm medo dos caçadores de anomalias que procuram o inexplicado para confundir com o inexplicavel. E dá-me a entender que estão sob uma grande pressão. E fizeram asneiras. Mas que a porcaria do clima continua a aquecer, isso não me fez duvidar nem um bocadinho. 

Não existe nesses emails a prova da conspiração - já que eu li as citações selecionadas pelos cepticos, se aquilo é o pior que para lá há, mesmo fora de contexto, não provam nada. Chamar idiota ao Mckintire? Ameaçar que vão redefinir o peer-review?  Coisas deste genero parecem-me mais provas de fanfarronice que evidências de conspiração. 

Que tem de haver mais transparecia e um inquerito ao que pode ter ficado de fora e porquê, eu acho que sim. Se isso deve ser feito por tipos como o McIntire? Nem pensar.

A ciência climática recebe contribuições de cerca de 16.000 cientistas e instituições. Deve ser possivel entrar nesta rede social especifica e acabar com quaisquer abusos. E sim, manipular informação, ainda que para defender um bem maior, não é honesto. Não pode ser cientificamente aceite. Mas para mim é facil de falar...

Mas o que dizem está errado? Não, a ciência de base mentem-se de pé.  Fica bastante fora destas coisas:

O clima esta a aquecer, o CO2 aquece o planeta, nós produzimos muito CO2, nós aquecemos o planeta. E é essa a mensagem que diversos orgões de informação e comunicação social, em varios países, decidiram publicar hoje em unisono nos seus editoriais. Ver por exemplo o Guardian.

Voltando a Mendel, acho que eles, tal como Mendel, quiseram eliminar o ruído para aumentar o sinal. Mas não fabricaram dados. Deixaram sair apenas aqueles dados de que se conseguiam extrair conclusões para as quais já havia explicação. 

E fizeram-no porque tinham informação suficiente para saber que estavam na direcção certa. Mas isso é errado na mesma e eu acho que ninguem ganhou nada com isso. Nem eles próprios. 

Estou no entanto convencido, que tal como no caso de Mendel,  boa ciência foi produzida entre algumas asneiras que não me parecem transversais a todo o percurso.  E feitas as contas, existe um fundo de verdade na urgência e na importancia de conseguir ter conclusões  que toda a gente compreenda.

Eliminar as duvidas e as anomalias foi um erro em todo o caso. As coisas podiam ter sido mais bem feitas. 

Estes são os meus pensamentos actuais sobre o assunto.  Considero por estas razões que isto está  longe de ser a tal conspiração e fabricação de dados e escandalo que os cepticos apregoam. Pelo menos com a informação actual.

Quem me acusar de dar uma no cravo e outra na ferradura, à boa maneira portuguesa, assumo já a culpa. É errado e desonesto mentir. Não digo que se justifica. Mas estou plenamente convencido que não mentiram acerca do mais importante.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Criar Deus à nossa imagem.

Um artigo (1) da New Scientist fala de um estudo de Nicholas Epley (2) que mostra como as pessoas que acreditam em Deus atribuiem à Sua opinião aquilo que elas próprias pensam. 

Foi pedido a crentes que dessem a sua opinião sobre diversos assuntos e que dissessem também que opinião pensavam que tinha diversas personalidades conhecidas e Deus, sobre esses assuntos. A correlação entre a opinião de cada individuo e Deus foi a mais forte. Tudo bem. Isto pode querer dizer que os crentes têm a opinião que pensam que Deus tem. Mas em seguida testou-se essa hipotese.

Foi então pedido aos crentes que elaborassem um discurso desenvolvendo uma opinião contrária à deles, de modo a suavizar a sua própria opinião. A opinião que atribuiam a Deus, muda em consonancia. Mas não aquela que atribuiam às outras personalidades!

É de facto frequente observar um religioso puxar a opinião ou vontade de Deus para uma discussão para provar o seu argumento. É tambem fácil ver como Deus parece não dar a mesma opinião a todos os crentes, ainda que cada um esteja convencido que aquilo que pensa é o que Deus pensa. Este estudo confirma isso.

Aquilo a que se poderia chamar de "falácia do religioso", que é passar da pressuposta existência de Deus para imediatamente concluir sobre a Sua vontade, (como se isso pudesse ser extraido lógicamente apenas do facto Dele existir), parece estar ainda mais ligado ao próprio crente que a um conceito independente de Deus. 

Eles dizem assim: "Intuir acerca das crenças de Deus em assuntos importantes pode não produzir um guia independente mas pode, em vez disso, servir para uma camara de eco das nossas próprias crenças".

De facto. Talvez isso ajude a explicar a quantidade de coisas diferentes que se atribui a Deus dentro da mesma religião e entre religiões. Pelos vistos, faz parte do processo.

A mesma peça da New Scientist cita ainda um outro artigo em que é demontrado que rezar utiliza as mesmas areas cerebrais que falar com um amigo (3) e refere que  tem vindo a ser sustentado por investigadores que todos estes achados são suportados pela teoria que a capacidade de imaginação tem um papel chave na religiosidade. 

(1)http://www.newscientist.com/article/dn18216-dear-god-please-confirm-what-i-already-believe.html

(2)http://faculty.chicagobooth.edu/nicholas.epley/

(3)http://www.newscientist.com/article/mg20227033.600-praying-to-god-is-like-talking-to-a-friend.html