terça-feira, 23 de março de 2010

Modelos sobre a consciência - o Espaço de Trabalho Global

Um dos modelos que propõe a tarefa árdua de explicar como funciona o cérebro a nível da consciencia é o modelo denominado "Global Workspace"proposto por Bernard Baars em 1983.

Durante cerca de 15 anos, não houve nada que o destacasse de outros modelos do ponto de vista cientifico, mas recentemente alguns estudos foram publicados (1) que suportam as suas previsões.

O modelo descreve o cérebro como tendo uma rede global de neurónios, unindo diversas áreas do cérebro que corresponde à consciência. Neste modelo, o processamento cerebral pré-consciente tem lugar em sítios localizados no cérebro, como por exemplo o córtex visual, olfactivo, etc, e a união destas áreas seria então a base da consciência, ao ser capaz de integrar devidamente esta informação.

Não haveria portanto um lugar no cérebro único que fosse a base da consciência, mas sim por todo o cérebro haveria uma estrutura neuronal que funcionasse sincronamente para proporcionar a sensação de ter consciência do que se sabe.

Essa rede, ou uma candidata forte foi entretanto detectada com um grau de certeza muito elevado. Assim como uma série previsões da teoria forma confirmadas, como por exemplo um atraso entre a visualização de um estimulo e a sua tomada de consciência.

Os locais por onde esta rede anda dentro do cérebro estão também identificados em relação a algumas regiões como por exemplo a D.M.N. (default mode network), o que era crucial para poder estudar o modelo.

Os neurónios dessa rede disparam quando se toma consciência de algo, mas permanecem num estado inativo se a percepção não chega ao nível consciente.

Ainda existe muito por explicar, mas a sustentação empírica deste modelo abre muitas portas e novas questões. Mesmo depois de explicada a base neurológica completa do "espaço de trabalho global" - que me parece ser tão real como o córtex olfactivo por exemplo - fica ainda por explicar o que é que é a sensação de nós próprios. E o que produz a consciência de se ter consciência. Que é onde reside o problema mais árduo.

Mesmo que a sensação de nós próprios seja a integração do imagem interna do nosso organismo com o que vem da imagem do ambiente (algo crucial para se ter uma sensação de estar dentro do corpo (2)), este modelo não sugere como isso se faça exactamente. Mesmo que venha mostra-lo durante o seu aperfeiçoamento (estas coisas acontecem em ciência).

Apenas sugere onde isso acontece. Que é numa rede que une locais afastados do cérebro, por todo o cérebro e anatomicamente bem localizada de tal modo que já sabemos como a encontrar.

O que quero dizer é que de forma alguma o modelo, por mais atraente que seja ( e realmente, é) sugere que as coisas acabem por aqui, pois esta "área de trabalho global" parece-me quetem ela própria quase tudo por explicar.

No entanto é mais uma dor de cabeça para os dualistas que querem explicar a mente com algo mais do que o cérebro.

(1) Este "post" veio quase integralmente de um excelente artigo da New Scientist que tem os links para os estudos mencionados:http://www.newscientist.com/article/mg20527520.400-firing-on-all-neurons-where-consciousness-comes-from.html


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