sexta-feira, 30 de julho de 2010

Pequenas coisas que podemos confirmar fora da discussão do clima.

Mas que podem levar a compreender o sentido das previsões cientificas:


- O CO2 causa "efeito de estufa"
- Existe mais energia livre no sistema terrestre devido a esse efeito.
- A vida esta adaptada a determinados parametros que não se podem alterar rapidamente
- Muitas bacterias e parasitas que existem em todo o lado, desde fungos a insectos existem em maior quantidade nos climas quentes.
- Estruturas dissipativas surgem quando um sistema esta longe do ponto de equilibrio. São estruturas que se formam para dissipar essa energia extra. Os furaçoes e ciclones são estruturas dissipativas.
- A agua tem o seu volume minimo a 4 graus. Se aqueceres vai aumentar o volume.
- Existe agua congelada acima do nivel do mar. Se derreteres vai para o mar.
- Se aumentares a temperatura as moleculas que passam para o estado gasoso aumentam. Mais agua vai passar ao estado gasoso. Infelizmente menos vai voltar ao estado solido pela mesma razão. O ponto de equilibrio muda.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Aquecimento global - a ciência e a escolha.

A ciência não diz o que devemos fazer em relação ao aquecimento global. Isso é uma escolha politica. Faça-se o que se fizer, vão haver perdas económicas. Livros como o referido nos posts anteriores (a) dão-nos apenas o panorama que podemos esperar se as tendências actuais se mantiverem e neste caso até fazem projecções grau a grau.

Se escolhermos reduzir as emissões de CO2 e gases com equivalente efeito de estufa, vamos ter perdas económicas relacionadas com o abrandamento da industrias que neste momento precisa de queimar combustível fóssil para funcionar.

Se escolhermos não fazer nada temos de nos haver com consequências com implicações económicas como tempesteadas mais destruidoras quer em numero quer em intensidade (1), perda de terreno arável, diminuição dos caudais de rios, diminuição do resultado das colheitas, etc (a). Tudo coisas que vão acabar por ter um impacto económico ainda mal conhecido, mas sem duvida elevado (2). É fácil perceber que se o preço da comida sobe, porque é mais caro produzir e se produz menos, vamos ter de pagar mais por ela. E se os bens básicos aumentarem de preço é sensato assumir que isso se vai reflectir em tudo o resto.

Não temos no entanto uma escolha limitada a dois cenários apenas. Podemos reduzir as emissões em 20, 30 80, 100% com resultados diferentes. (3).

A ciência dá informação que ajuda a tomar essa decisão. Mas essa decisão é ainda uma escolha (4). Não esta tudo contabilizado e pessoas diferentes querem coisas diferentes. O que é bem para uns não é para outros.

O que eu acho é que perdas económicas por perdas económicas então mais vale não reduzir a habitabilidade do planeta e tentar manter os recursos viáveis. A ciência da resultados que mostram com clareza que esses são cenários que  temos de ter em conta.

Existem argumentos do género de remendar os problemas conforme forem surgindo. Para a dificuldade de certos vegetais crescerem em climas quentes podemos recorrer aos geneticamente modificados. Para a falta de agua doce podemos desalinizar. Podemos usar mais aparelhos de ar condicionado no verão e mudarmos-nos todos para o interior conforme a agua for subindo e redistribuir a riqueza de modo a acolher os desalojados.

Mas existe um numero razoável de histórias que sugerem que mais vale prevenir que remediar, mesmo se nesta questão não saiba dizer exactamente quais os custos de re-condicionar a vida na terra de modo a poder continuar a queimar carbono livremente. Mas para alem da máxima citada é fácil perceber que as soluções são remendos, não são de facto alternativas que restorem a situação anterior. A perda de determinados factores ecológicos é em vista da tecnologia actual e do futuro próximo impensável. É quase como achar que podemos tornar a lua habitável. Ou Marte. O trabalho não é muito diferente.

Claro que a maioria dos opositores a uma posição pró-ecologica, mesmo os que aceitam que o aquecimento global é antropogenico, matém o cepticismo acerca das previsões cientificas das consequencias.

Escolhem "ad-hoc" as que aceitem e não aceitam. Uma parte da ciência é boa, e outra é má. Sem mais justificação que não seja "isso não se consegue saber". Porque sim.

É curioso que não encontre ninguém que aceite todos os estudos científicos que encontrem aceitação pelos pares mas diga que o aquecimento é bom na mesma. Talvez porque preferem combater os achados científicos em vez de dizer abertamente que preferem um mundo mais caro, com muito menos habitantes a viver em condições muito mais artificiais.

Não. Preferem dizer que a partir de um determinado ponto, variável de individuo para individuo, que "isso não se pode saber".  Ou afirmações derivadas. Ocasionalmente pegam num estudo especifico que julgam refutar completamente e agem como se se pudesse generalizar não se poderem saber determinadas coisas, para não se poder saber nada.

Porque também não digo que a ciência explica tudo, nunca disse. Apenas que é o melhor que podemos saber é o que diz a ciência. O que diz o senso comum ou a nossa intuição é inferior à justificação cientifica. E a comunidade cientifica parece não ter duvidas a este respeito. Que é complexo mas bem fundamentado.

Quanto à teoria que diz o oposto, a possível hipótese nula - não há aquecimento global antropogénico com consequencias nefastas na ecologia terrestre não existe practicamente. É pseudociencia. São poucos os estudos que a suportam e a justificação mais frequente costuma ser o apelo à ignorancia tipico dos que atacam a ciência. Procuram-se uns erros, umas lacunas, e tenta fazer-se passar por la a teoria oposta sem mais nem menos. E escolhe-se a dedo os estudos que interessam para provar um determinado ponto de vista.


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 (1)http://www.newscientist.com/article/dn7769-global-warming-may-pump-up-hurricane-power.html
http://www.newscientist.com/article/mg19526154.800-atlantic-hurricane-frequency-doubled-last-century.html

(2)http://cronicadaciencia.blogspot.com/2009/08/adaptcao-as-alteracoes-climaticas-pode.html

(3)http://cronicadaciencia.blogspot.com/2010/07/alteracoes-climaticas-impactos-futuros.html

(4) Já agora aproveito para fazer uma referencia à falacia do Naturalista que é passar do "é" para o "deve". A ciencia diz como as coisas são mas ainda esta a um bocado de dizer como devem ser.

(a)  http://cronicadaciencia.blogspot.com/2010/07/nas-publica-tratado-sobre-o-que-podemos.html

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Alterações Climaticas, Impactos Futuros e Escolhas entre Alvos de Estabilização

O aquecimento global devido à emissão de gases com efeito de estufa pode ser estimado em relação às suas implicações ambientais grau a grau.

Por cada grau que a temperatura média global aumenta temos aproximadamente:

- 5 a 10% de alteração da precipitação em várias regiões (5 a 10% a menos no mediterraneo)
- 3 a 10% de aumentos em chuvadas fortes
- 5 a 15% de redução nas colheitas agrícolas
- cerca de 15% e 25% de diminuição do gelo no artico - média anual e Setembro, respectivamente

Em patamares especificos podemos acrescentar:

Se o aquecimento médio global chegar a  3ºC  podemos esperar que 9 em 10 verões sejam extremamente quentes em quase todas as regiões.
Se o aquecimeto médio chegar a 4ºC podemos esperar todos os verões excepcionalmente quentes em todas as regiões. ( excepcionalmente quente definido como sendo equivalente ao segundo mais quente dos ultimos 20 anos para uma dada região)

 Mais 200% a 400% de vida selvagem ardida para aumenteos de 1 a 2 graus em regiões da America do Norte.

Alterações do Ph dos oceanos com alteração da temperatura entre 1,5 a 3ºC com consequente perda de recife de coral.

Entre o 1º e 3ºC de aquecimento a subida de 0,5 a 1 metro do nivel do mar em 2100, colocando em risco mais 5 a 200 milhões de pessoas e diminuindo a superficie de terra firme em 250.000 Km quadrados (Portugal tem 92.000 Km quadrados).

Em relação à concentração de CO2 na atmosfera (ou equivalente em outros gases de efeito de estufa) temos que :

Estabilizado em:
430 ppm - 2ºC
540 ppm - 3ºC
670 ppm - 4ºC
840 ppm - 5ºC
(previsões para este seculo)

As alterações de temperatura irão ser a causa indireta, através por exemplo da diminuição da pluviosidade anual, de muitas outras alterações ainda dificeis de quantificar. Como por exemplo:

-aumento de pragas
- variações na distribuição de doenças e dos seus vectores.
- aumento das zonas com pouco oxigenio.
- alterações em outras formas de vida dependente dos recifes de coral
- maior necessidade de ar condicionado no verão e aquecimento no inverno - custos energeticos.

Por fim a nota de que para estabilizar a concentração de CO2 na atmosfera é preciso emitir menos que aquele que é fixado pelo planeta. Em comparação com as emissões actuais, para que se produza apenas a quantidade de CO2 que é fixada, é preciso reduzir as emissões em 80%.

Reduções menores que 80% não levam a uma estabilização da concentração de CO2 porque continuará a ser produzido mais que aquele que é "consumido" naturalmente.

Agora é preciso fazer escolhas. Que aquecimento é toleravel? O que esperamos para o ambiente no futuro? O que é plausível?

Estas estimativas são o melhor que se pode saber. Não querer tomar decisões baseado nelas é irracional.

fonte:

"Stabilization targets for atmosferic greehouse concentrations"; NAP - http://www.nap.edu/catalog/12877.html

terça-feira, 20 de julho de 2010

Tratado sobre o que podemos prever sobre o clima, grau a grau.

Numa obra de livre acesso ao publico (1), e numa linguagem quase comum, a National Associated Press  (E.U.A.) publica um tratado sobre o aquecimento global onde faz uma revisão e integração dos trabalhos de investigação mais recentes sobre alterações climaticas e resume em conclusões detalhadas.

O objectivo é obviamente tornar-se o guia de referencia para o publico e poder politico sobre decisões que envolvam as emissões de Co2.

Naturalmente centrado sobretudo na America do Norte, existe informação sobre o que se pode prever para o mundo inteiro. Fazem a abordagem destas alterações por grau a mais e por aumento de CO2 cumulativo, o que permite encaixar de uma vez vários cenarios possiveis.

Via "Nature" : http://www.nature.com/news/2010/100719/full/466425a.html

(1) Aqui pode-se, depois de "dar" o email, descarregar o PDF da pré publicação:

 http://www.nap.edu/catalog.php?record_id=12877

Nota: É impressão minha ou evitaram usar os trabalhos dos envolvidos no "climategate"? Pelos vistos tambem não precisam deles...

Porque é que os cepticos não têm gurus e porque é que os crentes são crentes.

Bem, na realidade a resposta a esta pergunta ainda não está muito mais que esboçada. Mas o André Luís (1) deixou-me de presente este link na caixa de comentários:

http://scan.oxfordjournals.org/content/early/2010/03/12/scan.nsq023

Que leva a um abstract de um estudo que sugere que seguir figuras de culto e acreditar em milagres pode de facto ter a mesma origem. Em presença de figuras carismáticas, crentes cristãos mostraram uma tendência para desactivar redes neuronais no córtex frontal, em contraste com os cépticos, onde isto não acontece. Os crentes também aceitaram mais facilmente a capacidade destas pessoas carismáticas terem poderes curativos.

Afinal, quer-me parecer que quando os cépticos dizem que não seguem gurus, provavelmente estão apenas a dizer que não desligam a "máquina de duvidar" perante ninguém. E isto é neurologicamente suportado por esta pesquisa. E acrescento que na realidade nós seguimos muito mais raciocínios e ideias que pessoas, coisa que aparentemente não precisa de desactivar nenhuma area do cerebro.

(1) André Luís, http://www.blogger.com/profile/09702334332550490793 - comentário em "Porque é que os ateus e liberais são tendencialmente mais inteligentes"

A evolução e a cozinha.

De acordo com Richard Wrangham, de Harvard, cozinhar foi um dos factores mais importantes para o desenvolvimento do cérebro. Defende esta ideia já há algum tempo, sem que tenha gerado grande entusiasmo no meio académico, mas em boa verdade, as provas empíricas vão-se acumulando a seu favor.

Porque é que isto faz algum sentido? Porque a comida cozinhada aumenta a facilidade com que é mastigada e digerida, potencialmente permitindo passar mais tempo a pensar noutras coisas que a caçar e a comer. A comida é mastigada e digerida não só mais rapidamente mas também com maior eficácia, uma vez que as paredes das células estão já destruídas, sendo possível aproveitar mais daquilo que se come.


De facto, é visível a redução drástica do tamanho dos dentes em relação aos hominídeos anteriores quando se dá o aparecimento do Homo erectus e  do H.  neanthertalensis. O que não acontece no resto dos primatas actuais também. Por esta altura da evolução dos hominideos dá-se também um aumento notável do volume da caixa craniana, como seria de esperar se a teoria estivesse correcta.

O que falta demonstrar ainda é que os hominídeos em causa seriam capaz de controlar o fogo. Não existem evidencias que tal fosse possível há mais de 750 000 anos.

A noticia veio daqui :

http://www.newscientist.com/article/mg20727694.500-chew-on-this-thank-cooking-for-your-big-brain.html

E agora um aparte meu:

Uma vida inteira sem lavar os dentes devia dar bocas muito disfuncionais nos mais velhos e contribuir primeiro para a sua má nutrição, e depois para a diminuição da esperança de vida. Provavelmente estes anciãos terão tido um papel importante também no desenvolvimento da cultura e técnicas primitivas, pois poderiam potencialmente saber mais que os seus contemporâneos. Não só por terem mais tempo para acumular experiência e aprender com outros, mas porque nesta fase da evolução chegar a velho seria em si  um sinal de boas capacidades individuais. E que certamente integrado no seu meio social seria uma mais valia para a tribo onde vivesse:  poderiam gerir melhor os problemas da tribo, ensinar, etc, e  fazê-lo durante mais tempo. Penso que a longevidade humana é um factor importante para o que a nossa sociedade conseguiu fazer. Embora certamente do ponto de vista pessoal pareça pouco tempo, comparando com o resto dos animais é difícil encontrar longevidades maiores em animais com vidas aparentemente tão activas. A tendência é para ou viverem menos ou serem menos activos, havendo naturalmente excepções.

Aqui esta uma tabela de longevidade de animais:

 http://www.newton.dep.anl.gov/natbltn/400-499/nb486.htm (em animais de Zoologico porque na natureza não se encontram animais velhos ou apenas muito raramente... Talvez se começarem a cozer os alimentos...)

Outra nota: A taxa metabolica por kg aumenta inversamente ao peso: isto é, animais mais pequenos queimam mais calorias em relação ao seu peso vivo. E de facto parece que a tendencia destes queimadores rápidos de glicose vivem pouco tempo, talvez seja preciso ser-se um pouco maior para aproveitar melhor a energia e viver mais devagar. Mas animais maiores queimam mais calorias de um modo absoluto pelo que animais muito grandes precisam de grandes doses de energia para se sustentarem. De acordo com os cálculos divulgado na New Scientist um animal relativamente grande como o homem  precisaria de passar 48% do seu tempo a comer. Mas só passa 10%, graças provavelmente à comida estar cozida ou assada.

sábado, 17 de julho de 2010

Cientísmo - uma apologia

Pessoas como eu são acusadas frequentemente de cientismo. 

Se considerarmos cientismo a propriedade de alguém considerar a ciência a maior obra da humanidade no que respeita a compreender o universo (incluindo-nos  a nós próprios), eu não vejo razões para negar esse titulo. O problema é que serve para mais coisas.  Mas adiante.

Enquanto que a ciencia é materialista ("é milagre!" não é uma explicação)  e é a melhor forma para adquirir conhecimento e a unica que consegue produzir previsões sobre o comportamento da realidade, existe um numero de coisas que a ciencia ainda não consegue explicar. 

E que provavelmente nunca vai conseguir explicar. De facto isso até esta provado matematicamente graças ao Kurt G.

Mas nenhuma outra forma de conhecimento se aproxima sequer da ciencia. O tipo de afirmações justificadas, consistentes num sistema abrangente, capaz de fazer previsões e de abrir novos campos de estudo que formam a ciencia, são inigualaveis no seu poder explicativo em todo o conhecimento humano.

As duvidas da ciencia são acima de certezas de outras formas de conhecimento, sobretudo as advinhatorias como as medicinas alternativas e a teologia. Porque estas nem sequer conseguem justificar para alem da crença as suas afirmações sobre a realidade.

E se há uma forma de conhecimento que tenta não se fechar em si propria e manter-se aberta é a ciencia. Não so pelo gancho que mantem na realidade, mas pela incormporação da matematica, da filosofia e da tecnica que transformou em tecnologia. 

Nenhum outro sistema de conhecimento é tão aberto e simulataneamente consistente (a filosofia é aparentemente mais aberto, mas com perda de consistencia e realmente fechado a qualquer criterio de consistencia - eles dizem que o importante são as perguntas...)

A ciencia é tão boa comparado com o resto que pode parecer quase perfeita e no entanto é apenas o melhor que temos. E quando a ciencia inclui explicações que dispensam vontade propria para o universo é um disparate postular essa vontade propria para o universo e dar-lhe um nome. 

Temos de tomar decisões no dia a dia quase sempre sem fundamento cientifico. Nos tribunais são elaboradas sentenças com base em testemunhos oculares. A moral envolve escolhas que podem ser corretas num país e tabus noutra cultura. Nada disto quer dizer que estas tomadas de decisão não têm por principio, o mesmo rigor que a ciência. Apenas que a ciência esta dependente de informação muitas vezes impossível de colher, de processos que ainda não conhecemos e que talvez haja coisas que são escolhas puras - ou seja, que são neutras do ponto de vista da ciência


Afinal o sacrificio humano praticado anos a fio por outras culturas, pode hoje ser considerado com pouca margem de erro uma asneira. Por outro lado se eu comer gelado de chocolate ou de morango, e a escolha em questão for apenas essa, isso não parece ser um problema de moral. Com bastante certeza. Ja que não deve ter efeitos perceptiveis no bem estar de ninguém.

Mas nós não escolhemos tudo acerca da realidade. Se eu não posso prever com rigor que cor a Maria vai querer pintar a casa, ainda posso ter uma ideia muito boa se a conhecer e conhecer que cor as pessoas que partilham escolhas com a Maria pintam as casas. Mas essa escolha da Maria, pode muito bem ser mais escolha, seja isso o que for, que algo que seja causa e por sua vez cause efeitos neste mundo. Porque se o fizer de forma inequivoca, se causar efeitos mediveis em si e nos outros, ainda que probabilistica, pode muito bem até tornar-se objecto cientifico. E... Se calhar até já é...

O que não faz sentido, é considerar que se a ciencia não pode determinar como devem ser coisas em afirmações abertas das quais não conhecemos todas as ponderaveis ou processos, que o modo como nos tomamos essas decisões (vulgarmente apelando para uma referencia cultural qualquer que cada grupo diz que a sua é que é a absoluta), então considerar que a ciencia é a melhor forma de conhecimento que é mau. 

Porque apesar de ser possível sempre tomar uma decisão, não quer dizer que essa decisão esteja correcta. E se não é possível aplicar o rigor cientifico a algo é porque coisas que não se sabem  ou podem nunca vir a saber-se.  E o que não se sabe, não se sabe, não é para fingir que se sabe. Ou então resta provar que existe outro modo de as saber realmente. E tal nunca foi feito. As unicas respostas que temos foi a ciencia que trouxe. O resto são palpites. 

Para mal dos cientófobos, se alguma resposta vier, de outra area qualquer, que se mostre justificável, com poder preditivo, consistente num sistema, etc... A ciÊncia vai assimila-la. Como fez no passado. E vai evoluir e continuar a estar na crista da onda. Porque é apenas esse o seu objectivo. É ter respostas. Mas não palpites. Respostas justificáveis. Para alguns, apenas as respostas com rigor cientifico são respostas. As outras são opiniões. 

O objectivo da ciencia não é provar que não existem deuses ou fadas ou que a homeopatia não funciona. Não ha uma lista de coisas que não podem acontecer ou existir. Ou de efeitos que temos de fingir que não se vêm. É tentar saber como as coisas são. E como vão ser. O problema é que o conhecimento cientifico diz precisamente que acreditar nestas coisas requer afirmações sobre a realidade que são implausiveis ou cientificamente refutadas.

Por natureza o homem (e a mulher) atribuiem intencionalidade aos fenómenos até os compreenderem. Sabemos isto pela história humana. E sabemos pela ciência que só encontramos na natureza biológica agentes com intencionalidade. E mesmo assim muito poucos.

quem queira postular ad-hoc efeitos destes seres com intencionalidade. Ou até de os postular mesmo dizendo que eles não causam efeitos!

Naturalmente que têm de acusar pessoas como eu de qualquer coisa. Cientismo? Desde que não pensem que isso quer dizer que acho que a ciência é um deus ou algo que atingiu o ponto final do seu desenvolvimento. A ciência é como a democracia. É cheia de problemas, mas não há melhor. Como sabemos isso? É um facto histórico. Mas antes de mais, um facto. Que é a unidade básica do processo cientifico.

Por fim, dizem que a ciencia não pode justificar a ciencia. Que é auto-refutante. Mas o erro esta em que a ciencia tenta ter uma acora na realidade. E é isso que lhe permite ser tão aberta em tudo o resto. Enquanto a teologia se fundamente na teologia, e a filosofia na filosofia, a ciencia tenta ser a parte da filosofia que se comprova adequar-se à realidade. Mantendo assim uma entrada de informação vinda do exterior e evitar ao máximo a auto-referencia. Claro que vai ser sempre conhecimento humano e disso não passara. Mas nada mais se adequa tanto à realidade.

Se se adequar, é ciencia. 


Nota: Uso o termo afirmação aberta para afirmações que não concretizam um objectivo proposto, por exemplo: "É melhor ser-se magro" ou " comer açucar é bom". Fica a questão. É bom para quê? Porquê? Isso fica em aberto. Não é uma questão cientifica. Se por outro lado for "comer açucar é bom para emagrecer". Bem isso já é uma afirmação testável e cientifica. A questão é que o primeiro exemplo parece ser algo que é um problema por algo mais que ser cientifico ou não. Parece que enquanto bom não tiver um fim definido em si próprio, o que tornaria a afirmação fechada, não há muito que se possa dizer acerca dela. Em ciencia ou não.