terça-feira, 20 de julho de 2010

A evolução e a cozinha.

De acordo com Richard Wrangham, de Harvard, cozinhar foi um dos factores mais importantes para o desenvolvimento do cérebro. Defende esta ideia já há algum tempo, sem que tenha gerado grande entusiasmo no meio académico, mas em boa verdade, as provas empíricas vão-se acumulando a seu favor.

Porque é que isto faz algum sentido? Porque a comida cozinhada aumenta a facilidade com que é mastigada e digerida, potencialmente permitindo passar mais tempo a pensar noutras coisas que a caçar e a comer. A comida é mastigada e digerida não só mais rapidamente mas também com maior eficácia, uma vez que as paredes das células estão já destruídas, sendo possível aproveitar mais daquilo que se come.


De facto, é visível a redução drástica do tamanho dos dentes em relação aos hominídeos anteriores quando se dá o aparecimento do Homo erectus e  do H.  neanthertalensis. O que não acontece no resto dos primatas actuais também. Por esta altura da evolução dos hominideos dá-se também um aumento notável do volume da caixa craniana, como seria de esperar se a teoria estivesse correcta.

O que falta demonstrar ainda é que os hominídeos em causa seriam capaz de controlar o fogo. Não existem evidencias que tal fosse possível há mais de 750 000 anos.

A noticia veio daqui :

http://www.newscientist.com/article/mg20727694.500-chew-on-this-thank-cooking-for-your-big-brain.html

E agora um aparte meu:

Uma vida inteira sem lavar os dentes devia dar bocas muito disfuncionais nos mais velhos e contribuir primeiro para a sua má nutrição, e depois para a diminuição da esperança de vida. Provavelmente estes anciãos terão tido um papel importante também no desenvolvimento da cultura e técnicas primitivas, pois poderiam potencialmente saber mais que os seus contemporâneos. Não só por terem mais tempo para acumular experiência e aprender com outros, mas porque nesta fase da evolução chegar a velho seria em si  um sinal de boas capacidades individuais. E que certamente integrado no seu meio social seria uma mais valia para a tribo onde vivesse:  poderiam gerir melhor os problemas da tribo, ensinar, etc, e  fazê-lo durante mais tempo. Penso que a longevidade humana é um factor importante para o que a nossa sociedade conseguiu fazer. Embora certamente do ponto de vista pessoal pareça pouco tempo, comparando com o resto dos animais é difícil encontrar longevidades maiores em animais com vidas aparentemente tão activas. A tendência é para ou viverem menos ou serem menos activos, havendo naturalmente excepções.

Aqui esta uma tabela de longevidade de animais:

 http://www.newton.dep.anl.gov/natbltn/400-499/nb486.htm (em animais de Zoologico porque na natureza não se encontram animais velhos ou apenas muito raramente... Talvez se começarem a cozer os alimentos...)

Outra nota: A taxa metabolica por kg aumenta inversamente ao peso: isto é, animais mais pequenos queimam mais calorias em relação ao seu peso vivo. E de facto parece que a tendencia destes queimadores rápidos de glicose vivem pouco tempo, talvez seja preciso ser-se um pouco maior para aproveitar melhor a energia e viver mais devagar. Mas animais maiores queimam mais calorias de um modo absoluto pelo que animais muito grandes precisam de grandes doses de energia para se sustentarem. De acordo com os cálculos divulgado na New Scientist um animal relativamente grande como o homem  precisaria de passar 48% do seu tempo a comer. Mas só passa 10%, graças provavelmente à comida estar cozida ou assada.

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