quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Wikipédia - é fiável e barata, o que se pode pedir mais?


Se eu tivesse de nomear as 7 maravilhas do mundo da actualidade, não tenho duvidas que uma delas seria a Internet. E penso, que dentro da internet, se tivesse de nomear as tais 7 maravilhas outra vez, uma delas seria a wikipédia. 

Isto para ilustrar o meu apreço pela wikipédia e pelo esforço e altruísmo que ela representa.
Há no entanto ainda a crença de que a wikipédia é uma enciclopédia pobre, falsa e imatura.  Não é o caso. Das duas, uma: Ou estão a falar da wikipédia em português ou não sabem o que dizem.  E mesmo a versão portuguesa tem avançado muito nos últimos anos.

Para além da minha experiencia pessoal, em que posso dizer que a maior parte dos artigos que li são bastante satisfatórios, existem revisões profissionais dos artigos que respondem a muitas das críticas à wikipédia.
Um estudo da prestigiada revista de ciência, a "Nature",   publicado em 2005 que colocou especialistas a avaliar os artigos da sua área de conhecimentos, concluiu que a qualidade da Wikipédia era equivalente à da famosa Enciclopédia Britannica. (1)

Um trabalho apresentado põr membros do MIT e da IBM conclui acerca da possibilidade de vandalismo ( ou introdução de informação falsa ) que  a wikipédia tem uma “surpreendentemente eficiente capacidade de auto-regeneração” (2)

Uma abordagem menos científica do “The Guardian” em que se pede escritores e editores de livros e revistas de cultura popular para criticarem as entradas de alguns temas específicos relacionados. Aparece apenas um chumbo pela editora da revista “Vogue” que diz que o artigo da wikipédia sobre a alta costura vale zero. Não sei se isto diz mais sobre a Vogue do que sobre a Wikipédia… (3)

De resto, quando decidi escrever este post, já sabia da existência dos dois primeiros artigos. Mas fui à Wikipédia e encontrei entradas sobre o assunto onde são referenciados estes estudos e muito mais. E são listadas as críticas todas, para quem não souber como há de dizer mal e se quiser poder também usar a Wikipédia às escondidas.

Erros há até na Britânica. Porque como se diz, errar é humano e aquilo é feito por pessoas. Mas a quantidade enorme de pessoas que tem a controlar o trabalho umas das outras resulta num jogo de forças em que ganha aquilo que pode ser mais bem fundamentado. Resulta assim num texto nem sempre bonito mas quase sempre correcto. Eu defendo e aprovo. E como cereja no topo do bolo é à borla!



terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Uma boa ideia... Deixar de fumar.

Existem tantas maneira de deixar de fumar como de fazer bacalhau. Mas é preciso antes de mais nada querer. É preciso querer viver mais do que querer fumar. E depois aguentar a privação. O primeiro minuto é terrivel. Vai melhorando. Ao fim de 6 meses custa muito menos. Porque é imporante?

Para além de "pequenas" coisas como melhor oxigenação dos tecidos, redução da tensão arterial, melhor capacidade de combater infecções, melhor capacidade de cicatrização, note-se:

Comparado com quem não deixa de fumar, o...

Risco de AVC (acidente vascular cerebral) é reduzido para o mesmo de um não fumador ao fim de 5 a 15 anos.

Cancro na boca, garganta e esofago têm o risco reduzido para metade ao fim de 5 anos.

Risco de doença coronária é reduzido a metade logo após 1 ano. Demora no entanto mais 15 anos a ficar no nível de um não fumador.

Risco de morte por doença pulmonar obstrutiva crónica é reduzido quando se deixa de fumar.

Morte por cancro do pulmão reduz-se a metade ao fim de 10 anos.

Risco de úlceras, diminui após deixar de fumar.

Fumar é uma das causas preveníveis de morte mais significante nos países desenvolvidos. O tabaco é uma causa evitável de sofrimento para os próprios fumadores, mas não só. Também é sofrimento para familiares, amigos que vêem perder entes queridos para este vício e mesmo para toda a sociedade (já que os gastos em saúde e faltas ao trabalho saiem do bolso de todos).

Referência:

http://www.cdc.gov/tobacco/data_statistics/sgr/2004/posters/benefits/index.htm

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Discutir

 
É preciso separar a discussão de ideias da discussão de carácter pessoal. A discussão de ideias não deve ser considerada pessoal. Ataques ao carácter e personalidade são uma coisa. Ataques às ideias são outra. Ainda que nós as chamemos carinhosamente "nossas", elas são quase de certeza apenas adoptadas. E mesmo que sejam nossas de raiz, temos de ter cuidado para que sejam elas que são nossas e não nós é que somos delas.

As ideias são blocos com informação que existem no nosso cérebro. O substrato que as sustenta são os nossos neurónios - aí nascem, aí se replicam, transmitem-se de um cérebro a outro e eventualmente aí morrem. As suas formas mais simples são os memes. São o análogo metafísico do gene. E tal como o gene, sofre selecção natural. As melhores ideias, que dão mais resultados, que dão mais sucesso ao seu portador, tendem a persistir mais tempo.

O nosso objectivo - enquanto detentores de ideias  - deveria ser tentar ter as melhores possíveis. Se não podemos mandar os genes para o lixo se não nos satisfazem, o mesmo já não é bem verdade para as ideias. Podemos manda-las para o lixo. Mas o custo para o fazer parece ficar cada vez mais alto conforme vamos ficando mais velhos. Elas vão ficando cada vez mais bem instaladas, começam a criar raízes, têm uma data delas a crescer em cima que precisam do seu suporte, etc. A agilidade inconsciente da infância e adolescência não duram para sempre. Para o bem e para o mal. Mas isto não quer dizer que nos agarremos às nossas ideias como se fossemos nós próprios. Isso é muito bom para as ideias, mas francamente é pior para quem tem a ideia de que quem ataca as nossas ideias nos está a atacar a nós.

A ideia de que cada um de nós deve ser julgado por toda e cada uma das nossas ideias deve ter prosperado precisamente por dizer algo acerca do seu próprio poder de persistência. Mas é um disparate. As ideias devem persistir e prosperar por serem melhores, não por dizerem ao seu detentor: "defende todas as ideias que já estão instaladas como se fosse uma assunto pessoal".

Nós temos muitas ideias. Não somos nenhuma das nossas ideias separadamente. Não deixamos ser quem somos só por mudar uma ideia. Somos muito mais o resultado único da interacção de todas elas entre si. Mas podemos melhorar se as testarmos uma  a uma e as compararmos com as que nos passam por perto. E deitarmos para o lixo as piores em troca de outras melhores.

E uma maneira de o fazer é discutindo. Mas é preciso acabar com a ideia de que atacar as nossas ideias significa um ataque ao nosso carácter. Por muito que uma ideia se tenha apoderado da nossa mente e nós nos identifiquemos com ela, não devemos confundir um critica às ideias com uma critica pessoal, (ainda que construtiva).

Más ideias temos todos. Ridículas mesmo. Não é ter uma ou duas ideias ridículas que faz uma pessoa ridícula. Ninguém está sempre certo o tempo todo.

Dizer "essa ideia é um disparate" não é equivalente a dizer "tu és um disparate". Agressões ao carácter são algo muito mais profundo e dizem respeito à nossa natureza pessoal. Essas criticas devem ser sempre feitas com extrema delicadeza e nunca como quem critica determinada ideia ou coisa. Atacar a pessoa e não a ideia é de resto uma falácia velha mas infelizmente muito em moda. Em latim "ad homini". Dá a sensação de que quem a diz fica por cima. Mas as aparências iludem.

Isto tudo quer dizer que não devemos defender as nossas ideias? Nem um pouco. Quer dizer que podemos defender as nossas ideias frente às duas outros com unhas e dentes e quer dizer também que o devemos fazer como aprendizagem colectiva. Não devemos é considerar os ataques dos outros às nossas ideias como algo pessoal. Também eles têm o direito de atacar as nossas ideias com unhas e dentes.

Naturalmente que o envolvimento emocional não é de todo evitável. De acordo com o neurocientista português António Damásio nem sequer é desejável. Mas discutir com entusiasmo as ideias dos outros, ou os outros as nossas, não significa uma ataque às nossas ideias e vice versa. Essa confusão tem de acabar. Porque discutir ideias, repito, é uma maneira incontornavel de encontrar erros e aprender. E é imprescindível para quase todas as actividades humanas, porque bem feita, permite por vários cérebros a pensar como uma unidade.

A tendência para nos deixarmos dominar por cada ideia que temos e a defender como se se tratasse de nós próprios tem acabar. E repitotambem que não é para se deixar de discutir com vigor e entusiasmo. Mas para precisamente para se poder discutir com vigor e entusiasmo sem sair tudo ofendido para seu lado.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O singular caso do Aloe vera

O Aloe vera é talvez o mais popular de todos os nomes da fitoterapia e medicinas naturais. Desde yogurtes a cremes de beleza, tratamento de queimaduras e cancro, ele está em todo o lado. E é das coisas que me é recomendada mais vezes pelos meus clientes, o que torna o assunto pessoal.

No entanto, não aparece assim tanto em medicamentos farmacológicos (dos que são subtidos a estudos de eficacia e toxicidade) ou em textos de medicina verdadeira.

Faltam de facto estudos cegos, randomisados e com placebo, para se poder aferir com rigor a eficacia do Aloe vera para as indicaçoes em que e vulgarmente referenciado. Ha sempre qualquer coisa que falta, ou não são randomizados ou não têm controle, etc. Esta não é só uma opinião minha, é a conclusão a que chegam os artigos de revisão que li no pubmed.

Uma pesquisa pelo pubmed, levou-me a crer que existem estudos suficientes para justificar aumentar a investigaçao do assunto. Ao contrario de muita outra coisa que para ai ha, existem de facto indicios fortes de que o Aloe vera possa ser fonte de principios activos funcionais e pouco toxicos.

Toxicidade existe e o unico estudo sistematico que encontrei foi realizado pela industria dos cosmeticos e apontava para doses letais 50 (DL50) dos extratos entre as 50 e 200mg/kg conforme a via, o que me parece um bocado alto. A dose letal 50 é a dose que é suficiente para matar 50% de uma população de estudo. Na pratica, no entanto, deve ser dificil atingir estas doses em pessoas, porque o numero de relatos de problemas relacionados com o Aloe vera é muito baixo embora inclua casos de extrema gravidade.

É dificil aconselhar o uso de algo que ainda não é bem conhecido. Aqui não tenho mesmo é dificuldade em dizer que vale a pena investigar mais.

Mas o que torna mesmo singular este caso é os artigos a sugerir eficacia virem do oriente, de onde veio até agora muito pouca evolução na medicina. Gostaria antes de mais nada de ver esses resultados de laboratório replicados no ocidente - ainda antes de passar a estudos de campo e ensaios clinicos. Não é discriminação, a reprodução de resultados é parte importante da ciencia e é igual para todos. Mas se quando vem de sitios que produziram muito poucos avanços cientificos é natural que seja ainda mais pertinente. Se é estranho... É um pouco. Talvez esteja enganado, na realidade não fiz uma abordagem sistemática à origem geografica mas... Não creio. E penso que há demasiados resultados promissores para ser apenas erro ou fraude.
Mas  pensar e achar não vale nada. Fazem mesmo falta é estudos cientificos .

Update: Um estudo do NTP - National Toxicology Program (USA), mostrou haver efeitos cancerisnos por via oral: http://www.newscientist.com/article/dn20365-aloe-vera-extract-gave-rats-tumours.html

Notas, referencias e ligações:

 Efeito nulo do Aloe Vera no ritmo cardiaco e pressão sanguinea:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21048211

Potencial photocarcinogenico aumenta com aplicação topica de produtos com Aloe Vera

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21031007

Previne o aparecimento de papilomas causados por um químico o DMBA:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20932247

Tratamento do liquen plano oral:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20923446

Propriedades

Eficacia contra coccidiose:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20723543

Para prisão de ventre:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20723249

Causador de Hepatite Toxica:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20191055

Produção de dentina:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20088703

Review dos artigos (promissor mas faltam estudos):

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19218914

Review (promissor mas faltam estudos):

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10885091

DL50 para Ratos e Ratinhos, referencia de uso em cosmética:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17613130


Eficácia do Aloe vera em queimaduras:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17499928

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Ervas prejudiciais na gravidez.

É errado considerar que um produto só porque tem origem directa das plantas e "é natural", é inofensivo. Algumas plantas possuem moléculas com capacidade de modificar processos metabolicos existentes. Para o bem e para o mal isto são princípios activos. Podem de facto ter efeitos benéficos, mas também podem ter efeitos prejudiciais. Ou os dois. Ou ser dependente da dose.

Um estudo efectuado em Itália pela Universidade de Verona mostrou que quase um terço das grávidas (109 em 392 mulheres) usaram destes  medicamentos considerados "naturais" por considerarem que são mais seguros que os de medicina cientifica convencional, tendo sido quase sempre uma decisão individual - não médica.


Entre os mais frequentemente aplicados pelas grávidas encontravam-se, entre outros, os preparados de aloe vera, propolis, valeriana, camomila, oleo de amêndoas e... cranberries.

As mulheres que usaram destes produtos, tiveram mais problemas relacionados com a gravidez e bebés com menor peso.

Se a decisão de tomar princípios activos deveria ser sempre acompanhada por quem sabe pesar as vantagens e desvantagens associadas a determinadas moléculas - porque o que faz alguma coisa são moléculas, nada de forças mágicas que andem aí aos pulos - isto ainda é mais importante na gravidez devido à fragilidade do ser humano em desenvolvimento. Particularmente crítico costuma ser o primeiro trimestre.

Quer tenham origem em plantas ou fungos, ou sejam já derivados de síntese produzidos em laboratório, o problema é o mesmo.

É importante conhecer bem as moléculas, o que elas fazem e que problemas podem criar. Que doses devem ser utilizadas e que interacções podem ter.  Quando nem a eficácia está muitas vezes comprovada ao menos deveriam ser exigentes em relação ao estudo dos efeitos adversos.



Aqui:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20872924