sábado, 2 de abril de 2011

O Livre Arbítrio é bom.


Enquanto que a ciência sugere que não exista realmente algo como “livre-arbítrio” , um grupo de cientistas decidiu explorar a questão se acreditar nele é bom ou mau (1).

Sumariamente, as dúvidas que a ciência põe neste conceito são que ou o determinismo é verdade e então tudo o que fazemos é um fluxo linear de causas e consequências ou então há coisas que acontecem sem causa e de acordo com probabilidades, e o que fazemos é produto do acaso. De uma maneira ou de outra, o livre-arbítrio fica bastante comprometido.

Resta dizer que como a ciência diz também que existe uma seta-do-tempo, isto é, que o tempo anda num sentido apenas, e como não é possível prever o futuro pois implicaria ter um modelo completo de todo o universo e ser capaz de computar todas as variáveis em tempo real, o livre arbítrio ainda é livre em muitos aspectos. Talvez não “livre” num sentido absoluto mas num sentido relativo a não estar pré-determinado. Em traços largos, na pior das hipóteses, destino é algo que existe para cada instante seguinte, mas não mais que isso. Ou seja, não é destino.

É esse o livre-arbítrio que podemos ter. E seja como for, parece que se não acreditarmos no livre arbítrio, então não faz sentido decidir nada e ficamos apáticos, por isso o melhor é acreditar em qualquer coisa e fazer pela vida.

Então e voltando ao princípio, foi esta a ideia que um grupo de psicólogos decidiu investigar. É mesmo melhor acreditar no livre-arbítrio?

Foram formados dois grupos e a um deles foi dado um texto genérico sobre a consciência e a outro um texto que alegava a descoberta cientifica de que não existe o livre arbítrio.

Depois, com recurso a electroencefalograma mediu-se a disposição para iniciar actividade voluntária. Isso é possível pois as nossas decisões de agir são preparadas a nível subconsciente antes de serem apresentadas à consciência (sim, eu sei, aparentemente mais um pontapé no livre arbítrio, mas não se esqueçam que o cérebro é um sistema de sistemas interrelacionados e é quase impossível dizer onde “nascem” as coisas.)

As pessoas que tinham estado a ler sobre a inexistência de livre arbítrio tornaram-se menos activas. Isto mostra que duvidar do livre arbítrio causa desmotivação. Segundo um dos autores do estudo mostra que é melhor acreditar.

À partida parece-me uma conclusão razoável, em linha com o esperado pelas deambulações filosóficas. E acho que este estudo levanta ainda mais questões interessantes passíveis de ser abordadas cientificamente.

Quanto tempo dura essa desmotivação?
Embora em menos quantidade há uma diminuição na qualidade? Isto é, se pusermos ambos os grupos a ter de tomar decisões complexas, incluindo a resolução de problemas, haverá diferenças na eficácia?
Será que essa maior propensão para agir baseada na crença do livre arbítrio pode predispor ao disparate?
Especificamente ao tipo de diminuição de actividade, causará diferença nos tempos de reacção face a um sinal de perigo?

Provavelmente, alguém, algures já está a desenhar protocolos para testar estas questões. É uma questão de tempo.
E penso que a seu tempo poderemos saber mais sobre se temos ou não escolha em acreditar no livre-arbítrio. Não tenham dúvidas. Até lá acreditem. E se não acreditarem façam como se acreditassem. Afinal como dizia o hitchens, temos de acreditar no livre-arbítrio, não temos outra hipotese.



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