sábado, 22 de outubro de 2011

Vacinas são bastante seguras, é a conclusão de uma meta-analise recente.

Uma revisão de mais de 1000 estudos sobre efeitos adversos das vacinas conclui que tais efeitos são raros e quase sempre reversíveis. A revisão foi levada a cabo pelo Institute of Medicine (EUA).


 Neste ultimo relatório foi avaliada a evidência para riscos relacionados com a vacina da varicela, da gripe (excepto a de 2009 para H1N1), da hepatite b, do papiloma vírus humano, da tríplice; sarampo rubéola e papeira ( a tal do autismo), da hepatite e meningite menigococica.

As vacinas não são seguras para pessoas imunodeficiência, mas os casos graves em pessoas normais são extremamente raros, aparecendo apenas relatos pontuais ( um ou outro em toda a população vacinada), sem relevância epidemiológica.

A anafilaxe continua a ser a reacção adversa grave mais frequente mas é reversível se adequadamente tratada.


Aqui:

http://www.iom.edu/Reports/2011/Adverse-Effects-of-Vaccines-Evidence-and-Causality.aspx

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

"Coisas que a ciência nem reconhece" e a velocidade da luz.

Ouço muitas vezes algo como "é explicado por coisas que a ciência nem reconhece". Mas existem tais coisas? Como sabemos que existem se não têm factos para as suportar? E se têm que razões há para dizer que a ciência não os reconhece? Alguma vez isso aconteceu significativamente?

Há uns dias atrás a comunidade científica foi confrontada com algo que não deveria acontecer segundo a sua crença.

A saber, o laboratório CERN anunciou que mediu neutrinos a moverem-se mais depressa que a luz.

No entanto, em vez de negar a existência desse novo facto, divulgou-o para o mundo inteiro ficar a saber que algures nas bases de uma das teorias mais importantes da física, muito provavelmente existe uma excepção fatal. Sim, este facto novo pode ser suficiente para falsificar a teoria da relatividade. Uma qualquer teoria que emerja da integração desta nova informação vai ter de ser fundamentalmente diferente da gravidade ainda que tenha de ter resultados quase idênticos para uma série de outras questões.

 O surgimento de uma nova anomalia é tanto temida como desejada pela comunidade científica e é importante notar como reage nestas situações. Neste caso, sabemos que os autores da experiencia, demoraram algum tempo para a divulgar (meses)  e só o fizeram depois de terem uma grande confiança nas medições. Tinha de ser. A certeza de uma medição com este género de resultado não pode ser considerada de confiança sem um grande rigor na medição e publicar resultados trapalhões não pode ser. Tem de se afastar a hipótese de erro, já que contraria os resultados de muito mais experiencias efectuadas antes e que levaram à confirmação da teoria da relatividade. Mas uma vez obtida essa confirmação, com um grau de certeza bastante razoável, esse resultado foi divulgado.
A comunidade científica em geral, reagiu da mesma forma, no momento logo após a publicação. Em vez de negarem a existência de coisas que não podem explicar começaram por passar a pente fino os procedimentos. De um modo geral lembro-me que as reacções eram de espanto perante o rigor da experiencia. Logo de seguida, levantaram-se as questões da replicação independente. Nada de novo também. Uma coisa que falta é que um grupo independente e concorrente possa por neutrinos a viajar mais depressa que luz e segundo consta existem várias experiencias a correr que podem ser modificadas para o efeito.

Mas seja como for ninguém está a fingir que não vê o que não pode explicar. Pelo contrário.

 A quantidade incrível de artigos que surgiram a tentar explicar estes resultados é ilustrativa. Ninguém está a dizer: “isso não aconteceu porque é impossível!”.  E se a ciência tivesse esse tipo de procedimento nas suas fundações, esta era a altura de a usar. Mas não tem. Não funciona assim. A ciência é acerca de factos e explicações para esses factos. Temos é de saber que não são apenas impressões e são mesmo factos.

Como disse a inundação de artigos é enorme e alguns nem esperam a confirmação independente para avançar com explicações: Desde a possibilidade dos neutrinos terem usado dimensões extra para chegar ao destino (a teoria das cordas assume várias dimensões), a outras em que se propõe que esta seja a velocidade máxima absoluta e não a dos fotões (luz)). Muitos artigos exploram minuciosamente que fragilidades podem haver e onde a experiência pode ter falhado – o que é muito importante para as repetições que se seguirem.
De resto, parece-me que se está a seguir os passos normais do processo cientifico, da dúvida metódica e a repetir o que é feito quando grandes anomalias são encontradas. O mesmo aconteceu quando se descobriu que a luz tinha a mesma velocidade independente da velocidade da fonte. Foi repetido até se ter a certeza que era um facto e quando se teve a certeza que era um facto tivemos de encontrar uma explicação. Foi muito difícil e precisámos de uma mente como a de Einstein. Mas que a luz tinha a mesma velocidade em qualquer direcção medida independente da velocidade da fonte já era aceite como um facto. Senão ninguém tinha aceitado a relatividade. Claro.

Existem cientistas que não acreditam nestes resultados e dizem-no abertamente. Mas dizem também que esperam que as próximas experiencias mostrem onde está o erro que deu origem a estas medições, o que pressupõe que se isso não acontecer que terão de rever a sua crença. Em todo o caso, estão a tentar adivinhar, era mais sensato esperar.

Mas o que é fundamental é que a comunidade científica está, como sempre esteve, preparada para seguir aonde levarem as evidências. E isso é o que podemos concluir até agora, ainda se não podemos ter uma certeza com rigor cientifico de que os neutrinos andem mais depressa que a luz. Está-se a fazer o que é preciso para clarificar essa questão, com abertura e racionalidade.

Aquelas acusações de haver coisas que a ciência não reconhece têm dois grandes problemas. Uma  é explicarem como é que sabem que essas coisas existem e não são apenas palpites mandados à toa. A outra é que justificações têm para dizer que a ciência não reconhece seja o que for que possa ser bem estabelecido como real. É porque não sabem como funciona a ciência e nem sequer querem saber. Dão sempre a ideia que a ciência tem uma lista de coisas que tem de esconder para continuar a ter sucesso. Se isso fosse verdade, nada mais importante para estar nessa lista que violações à velocidade da luz.

Quanto à minha opinião pessoal sobre este assunto, não tenho. Estou à espera. Não sinto necessidade de formar uma opinião acerca deste assunto com a informação que existe. O que sei é que existem razões para levar a questão a séria e agora precisamos de verificação independente para passar a ser conhecimento. Ter opinião sem ser conhecimento só serve se temos pressa. Eu não tenho. Espero.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Medicina Tradicional Chinesa - doenças crónicas e a esperança média de vida.

A China tinha, no inicio do século passado, uma esperança média de vida de cerca de 30 anos. Na Europa por essa altura a esperança média de vida era no mínimo 10 anos mais - em muitos países era quase 20 anos mais (mesma referência).

Só 50 anos mais tarde é que a média de vida na china chegou aos 40 anos, em 1950.

Hoje, a esperança média de vida na china é de cerca de 74,5 anos. Menos 4 anos em média que em Portugal.

Se a medicina tradicional chinesa é uma pratica milenar como vem sendo dito, é óbvio que não era suficiente para dar à China uma longevidade a par da vivida no ocidente. E é óbvio também, pela mesma razão, que não foi esse o factor que permitiu o aumento da esperança média de vida, nos últimos anos. Existem autores que atribuem isso à chegada da medicina cientifica. Mas podem estar errados, claro.

Também pode dar-se que as causas de uma longevidade tão baixa não estejam apenas ligadas a falta de eficiência da medicina tradicional chinesa mas sobretudo a não saber para o que ela serviria. E portanto a aplicá-la mal.

Afinal, arranjar o Qi podia ser ineficaz não só contra doenças infecciosas mas também contra Qis desalinhados devido a carências alimentares ou duras condições de vida. Afinal não podemos esperar que alinhar os Qis por meio de agulhas resolva todo o tipo de problemas não é? Mesmo que fossem as questões mais pertinentes nessa altura. Afinal o que essa gente precisava era de uma alimentação melhor, saneamento básico, vacinas, etc. que aquele tipo de desatino no Qi não se arranjava com agulhas.

Felizmente esses problemas estão resolvidos e a acupunctura pode agora brilhar nas coisas para que realmente serve.

Parece que segundo as tendências actuais, alinhavar os Qis por meio de agulhas, é sobretudo bom para doenças crónicas, de preferência ligadas a dor crónica (1). É bom, porque se não serviu para aumentar a longevidade para lá dos 30 ou 40 anos durante milénios, ao menos agora serve para resolver  doenças que surgem em quem vive mais.

Resta a dúvida de para que é que aquilo servia em pessoas com menos de 30 anos... E mais. Onde é que a medicina tradicional, dita milenar, aprendeu algo sobre doenças crónicas em populações com esperança média de vida até aos 30? Que sorte formidável ter conseguido sobreviver durante milénios sem dar resultados para nos ajudar agora contra doenças crónicas. Essas coisas que só aparecem depois dos 30.

É... Suponho que a acupunctura deve ter sido mesmo útil foi a resolver doenças auto-limitantes em jovens. E duvido que seja mais útil para doenças crónicas que para as agudas.

Seja como for, não me parece um bom argumento falar em doenças crónicas ou na longa história de existência da acupunctura para a defender. Isso levanta questões que não lhe são favoráveis.

O problema é que os testes científicos também.

(1) Deixei uma referência, mas isto foi me dito pessoalmente por um senhor, vestido com roupas chinesas e tudo, que estava num congresso de veterinária a vender os seus serviços e que me abalroou enquanto eu ia nos meus afazeres.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Efeitos adversos e secundários.

É preciso ter cuidado para não atribuir a um medicamento ou vacina tudo o que foi registado como acontecendo a seguir à sua administração. 

Nem todo o acontecimento B que se segue a A é consequência de A. Esta falácia do pensamento humano chama-se "post hoc ergo proter hoc".

Isto porque existem publicados na Internet registos de farmacovigilância que estão sendo assim interpretados. 

Desta maneira, problemas frequentes como constipações, otites e outras mazelas estão a aparecer também com alguma frequência nessas listas. O mesmo se passa para outras doenças mais graves mas também frequentes. 

Em relação aos registos menos frequentes o cuidado não deve ser menor. Se aconteceu algo extraordinário após toma de um medicamento, mas também aconteceu apenas numa percentagem muito baixa, por exemplo, aí na casa do 1 para um milhão, não é razão para ter menos cuidado a atribuir relação de causa-efeito. 

É preciso, para considerar uma relação de causalidade, haver um aumento de frequência face a um controlo e ou um mecanismo plausível  .

Se não daqui a pouco estamos a considerar outros acontecimentos frequentes como efeito secundário, como por exemplo considerar os acidentes de automóvel culpa da vacinação. 

Por exemplo, a maioria das vacinas não tem efeitos indesejados na maioria das vezes. Os problemas mais comuns são períodos febris (responsivos a antipiréticos), inchaços e comichões. E mesmo assim são pouco frequentes - ver mais aqui. Raramente, podem ter reacções muito graves e o choque anafilático que ocorre em cerca de 1 em 1 milhão é normalmente a reacção adversa mais grave com que temos de contar se falarmos das vacinas de um modo geral. Mas é tratável e não deixa sequelas. Mas é a razão pela qual a vacina deve ser dada por quem sabe e onde há meios para responder a essas situações. Como quase todos nós fomos vacinados, se decidirmos ver o qeu aconteceu a cada um depois da vacina sem ter em conta a plausibilidade ou o aumento de frequência, vamos ter resultados bizarros como consequência das vacinas, tal como os propostos acima, já que acidentes de viação são muito frequentes.

Outra coisa que vale a pena alertar a este respeito é acerca de um site novo que lista os dados de farmacologia de todos os medicamentos e apresenta o resultado em percentagem em relação às notificações. Isto é, a percentagem de cada problema é em relação ao total de notificações, pelo que a soma dá mas de 100% de problemas para cada medicamento já que as notificações normalmente não incluem um só sintoma. Pegar nessas listas sem ter isso em mente ainda é pior que nas antigas onde era tudo registado quer fizesse sentido quer não. É que nestas é tudo registado, mas acrescentam uma percentagem que parece que é a probabilidade de cada um de vir a ter aquele sintoma. Vale a pena ter isso em atenção já que também existe esta modalidade.

Para finalizar e voltando às vacinas. É errado considerar o risco do vacinado igual ao do não vacinado. Isto parece óbvio, mas andam para aí pessoas que pegam nos números de risco de uma população vacinada, e usam como argumento para dizerem que não se vacinam porque o risco é baixo. Já para não falar que um dos objectivos da vacinação é a "imunidade de rebanho". E sim, somos o rebanho. Existe um limiar abaixo do qual não devemos descer para que continuemos todos protegidos e com prevalências baixíssimas.