sexta-feira, 29 de março de 2013

Sobre a Inteligência


“A inteligência é a coisa mais bem repartida nos homens, porque qualquer um considera que dela é dotado o suficiente, pois é com ela que faz esse julgamento.” - René Descartes, “Discurso do Método”, 1637.


“1 -A Inteligência é uma capacidade mental muito geral, que entre outras coisas envolve a capacidade de raciocinar, pensar abstractamente, planear, resolver problemas, aprender depressa e aprender a partir da experiencia. (...)


2 - A Inteligência, assim defenida pode ser medida e testes de inteligência fazem-no bem. Estão entre os testes mais precisos de toda a psicologia (em termos tecnicos, de validade e reliabilidade). (...)


3 - Enquanto é verdade que existem diferentes tipos de testes de inteligencia, eles medem todos a mesma inteligência. Alguns usam palavras ou numeros e requerem conhecimento cultural especifico (como vocabulário). Outros não e usam figuras e formas abstractas que requerem apenas conhecimento simples de conceitos universais (...)



4- A distribuição das pessoas ao longo do continuum do QI, do mais baixo para o mais alto, pode ser bem representado por uma curva em forma de sino (em jargão estatistico, uma curva normal) (...)

9 - O QI está fortemente correlacionado, provavelmente mais fortemente que qualquer outro traço humano mensurável a muitos resultados educativos, economicos ou sociais (...) Há muitas excepções, mas as probabilidades de sucesso na nossa sociedade estão largamente do lado dos QIs mais altos”. - Linda  S. Gottfreson, “Mainstream Science on Inteligence: An Editorial With 52 signatories, History, and Bibliography” , 1994

“Os individuos variam na sua abilidade de  compreender ideias complexas, de se adaptar effectivamente ao meio ambiente, de aprender com a experiencia, de entrar nas varias formas de raciocionio, de ultrapassar obstaculos através de pensameneto. (...) Conceitos de Inteligencia são tentativas de clarificar e organizar este conjunto de fenómenos complexos. Apesar de considerável clareza ter sido conseguida em algumas areas, nenhuma conceptualização ainda respondeu a todas as questões importantes e nenhuma recebe aceitação universal.

(...) Por razões históricas, o termo QI é frequentemente usado em relação a resultados de testes de inteligencia. Originalmente referia-se a um “quociente de Inteligencia” que era formado dividindo a então chamada idade mental pela idade cronologica. Este procedimento já não é usado.

(...) É parcialmente porque os testes de inteligencia prevêm os anos de escolaridade tão bem que eles também prevêm o status occupacional e numa extensão menor até os rendimentos. Para mais, muitas ocupações podem apenas ser acedidas através de escolas que baseiam as suas admissões, pelo menos parcialmente em testes como GMAT, LSAT MCAT, etc. Resultados individuais como estes estão certamente correlacionados com resultados de testes de inteligência.” Ulric Neisser e outros, “Intelligence: Knowns and Unknowns”, 1996

“A inteligência, então, é a capacidade de alcançar objectivos em face de obstaculos por meio de decisões baseadas em regras racionais lógicas. Os cientistas da computação Allen Newell e Herbert Simon levaram esta ideia mais longe notando que a inteligência consiste em especificar um objectivo, avaliar a situação currente face a esse objectivo e aplicar um conjunto de operações que reduzam a diferença. Talvez seja recomfortante notar, que por esta definição, os seres humanos e não apenas aliens, são inteligentes. Nós temos desejos e nós presseguimos esses desejos através de crenças que, em geral, quando tudo corre bem, são pelo menos aproximadamente ou provavelmente verdade.” - Steven Pinker, “How the mind Works”,1997


“Matendo todas as outras coisas iguais, um mundo mais esperto é um mundo menos violento (...)

(...) A relação entre a inteligencia dos presidentes e guerra também pode ser quantificada. Entre 1946 e 2008, o QI de um presidente está negativamente correlacionado com o numero de mortos em batalhas envolvendo os Estados Unidos da América durante a sua presidencia, por um factor de -0,45. (...)

(...) Mas os cientistas que estudam as diferenças individuais são virtualmente unanimos que a inteligência pode ser medida, que é francamente estável ao longo de uma vida de um individuo e que prevê o sucesso académico e profissional em cada nivel da escala. (...)

(...) Estes subtestes (de QI) são considerados as mais puras medidas de inteligencia geral porque se correlacionam  bem com a tendência das pessoas de obter melhores resultados numa grande bateria de testes diferentes. Essa tendência é chamada g, e a existencia de g é considerada a mais importante descoberta na ciência dos testes mentais. (...) ” Steven Pinker, “Better Angels of our Nature” 2011


Como em muitas outras coisas na ciência, há muito por saber acerca da inteligência, mas há muito que também  já sabemos. Do que falta saber, uma area escandalosamente vazia, é a sua base biológica - mas existe um extraórdinario esforço nesse campo. Ou seja, o que significa a nível neuronal e fisiologico o g? É uma propriedade emergente do cerebro, tal qual um centro de massa cognitivo, ou é uma entidade discreta da qual medimos a potencia? É um efeito da alma?

Do que já sabemos melhor, como em muitas outras coisas, é das suas propriedades. Sabemos o que estamos a medir do ponto de vista comportamental e sabemos que o fazemos com rigor cientifico pois é capaz de fazer previsões significativas, sistematicamente.

Por isso a inteligencia é um conceito util, funciona, acerca do qual somos capazes de dizer muita coisa - existem consensos acerca de muitas das suas propriedades, e se bem que não haja consenso acerca de uma definição final formal, sabemos dizer o que esperamos dela e o como ela é em muitos aspectos. Um pouco como o que sabemos da própria ciencia. Ou sobre o que é a própria identidade em si.

No entanto, este tema parece estar a tornar-se tabu. Pessoas que até pensam como eu numa série de outras coisas neste preferem tratar a inteligencia como algo mistico, ou coisa parecida.   E parece-me que é uma atitude de querer meter a cabeça na areia. Porque existem diferenças entre pessoas no que toca a QI e porque isso é determinante nas suas vidas. E como não é bonito, negamos que exista um efeito real. Mas esse caminho não nos leva a resolver nada.

De facto, a literatura do QI sugere que os fracos dos dias modernos são as pessoas com menos QI. Dão-se pior nas tarefas que levam a melhor qualidade de vida, como o desempenho académico e profissional. Não é de estranhar por isso que haja até uma associação entre QI e longevidade. E entre QI e felicidade.

Mas de como as coisas são não segue que devam ser assim. A discriminação por inteligencia da nossa sociedade é real - tão real como a qualidade das suas previsões, e pelo menos como uma tendencia. E a questão que deviamos estar a responder é se é realmente justo que assim seja. E se não é, se há soluções.

Por exemplo, e aqui vejo uma defesa da discriminação por inteligencia: parece que precisamos de lideres inteligentes. Certo. Esses se calhar até podiam ser mais discriminados por esse lado.

Mas há mais na qualidade de vida que poder. Não precisamos todos de o ter.

Update: Saiu um estudo sobre como as pessoas menos inteligentes tendem a ser preconceituosas, e por vezes caiem em ideologias perigosas. Talvez expondo estas pessoas a menos pressão ambiental fosse uma solução para evitar fugas para o desastre...

sexta-feira, 22 de março de 2013

O eixo do mal - A anomalia.

Quando um facto não é explicado pelo conhecimento cientifico, isso é uma anomalia. 

Segundo os detratores da ciencia, as anomalias são escondidas para fingir que bate tudo certo. No entanto, na maioria das vezes, elas são colocadas à vista de todos e apontadas pelos próprios cientistas. Encontrar anomalias, algo de novo, ou confirmar que as anteriores não eram artefactos da experiencia, também é importante. E avança o conhecimento, aumentando a informação disponivel.

E se os dados acerca do bosão de Higgs parecem estar tão ensonsamente de acordo com as previsões teoricas, com a experança de uma anomalia a desvanecer-se, o que se passou com a medição da radiação micro-ondas de fundo foi o contrário. 

Veio mostrar que algumas anomalias que se discutiam antes são de facto tão reais quanto é possível saber. Mais concretamente, existem zonas, na grande escala, com variações bastante superiores e inferiores ao esperado pelos modelos. Se por um lado a maioria do mapa feito das radiações de fundo na gama das microondas está maioriatáriamente de acordo com as previsões, uma pequena parte não está.

E isso não é menos interessante ou menos notícia que notar a parte que está.

O fundo de radiação de microondas é uma imagem do universo no momento em que se formaram os primeiros atomos. Antes disso, o universo era opaco, denso, uma autentica sopa de particulas a alta temperatura. Os fotões não podiam ir a lado nenhum. Não era transparente.

Depois da recombinação, nome que os fisicos dão à formação dos atomos, os fotões puderam começar a seguir o seu caminho pelo universo. Isto aconteceu, a recombinação,  porque o universo arrefeceu devido à inflação. A inflação é o aumento do próprio espaço. Mais que um big bang é mais um big swosh.

Por isso, estes fotões que foram os primeiros a poderem passear pelo universo são a imagem inflacionada  do universo na altura em que houve esta mudança de estado, ou seja, a "fotografia" possível de uma fase muito primitiva da sua formação. Com a inflação, os fotões perderam energia, aumentando o comprimento de onda, e por isso era previsivel que fossem encontrados na gama das microondas. E que fossem encontrados na mesma quantidade relativa para onde quer que apontemos os detectores. Afinal variações que resultem de flutuações quanticas, (de uma altura em que toda a matéria se comportava desse estranho modo), são esperadas, mas não mais que isso. Aliás essas flutuações quanticas deram origem aos aglomerados de matéria que são as galáxias, com origem nas zonas mais densas e quentes no momento da inflação.

Mas isso prevê uma certa homogeneidade na radiação de fundo. 

Não sabemos como explicar grandes variações sobretudo a formar um padrão. E se durante muito tempo se pensou que algumas dessas variações já medidas pudessem ser erros de medição, agora sabemos que não. O radiotelecopio Planck confirmou que são parte da fotografia. 

Uma dessas anomalias, é o "eixo do mal" assim chamado pelo português João Mangueijo que primeiro o identificou. É um alinhamento da radiação de fundo numa determinada direcção, que pelo que pude perceber, não derruba o modelo inflacionario mas por pouco. Uma explicação possivel será um universo muito mais pequeno que o pensado. Ou podem ser os sinais de uma nova fisica. 

Outra anomalia é um ponto frio maior que o esperado. Alguns fisicos sugerem que poderá ser uma cicatriz do impacto com outro universo. 

Seja como for, estas anomalias vêm por alguma tensão nas costuras dos modelos actuais. Aparentemente estes modelos dão com uma mão (acertando numa grande maioria de coisas) mas tiram com  a outra (deixando de fora anomalias notáveis). 

O que é de prever é que uma maioria da comunidade cientifica tente trabalhar com estes resultados à luz dos paradigmas actuais. Será normal e desejável, até haver uma explicação melhor, tentar juntar as peças do puzzle de acordo com o que já está feito e que levou por exemplo a descobrir estas anomalias. Outros eventualmente tentarão perseguir um novo paradigma de fundo. Como fizeram Newton, Einstein, Darwin, Galileu, etc no seu tempo. Esses provavelmente terão o caminho mais dificil mas também mais conpensatório. Porque há indicios fortes de que precisamos de um novo paradigma.

Isso não quer dizer que o que sabemos não serve para nada ou não vale nada. Quer dizer que serve para algumas coisas (e já assombrosamente muitas) mas não para outras e que deve ser possível e desejavel alcansar um modelo mais completo (sem por a consistencia em causa). 

Não deixa de ser impressionante ver onde a fisica chegou e o tipo de problemas que tem para resolver nos dias de hoje. Ainda há uns poucos milénios, um pequeno punhado dos 200.000 que temos de idade,  não faziamos a minima ideia de como era a Terra ou o sistema solar, quanto mais estar a discutir anomalias de uma fotografia das microondas do universo primitivo.

E no mundo da informação que vivemos hoje é formidável poder assistir à ciencia a avançar em tempo real em tantas areas diferentes, e como o faz. Também hoje se discute  - e abertamente -  cada vez mais a importancia de eliminar a tendencia de publicar apenas resultados positivos, por um lado. Por outro de como as anomalias têm de ser confirmadas com certeza cientifica para serem levadas a sério. Cada vez mais a estatistica bayesiana, é avançada como a solução estatistica da ciencia. Isto quer dizer que a certeza da anomalia ser real e ter significado tem de ser tão forte como o modelo que esta contraria. Dito assim parece banal, mas a matemática envolvida não é assim tão simples.

E quando isso acontece - ter uma anomalia bem confirmada -  não é menos importante. E segundo li, o próprio Magueijo já veio dizer que se devia chamar antes "eixo-do-bem". Afinal é nova informação, preciosa, que pode apontar para novos desenvolvimentos teoricos.
E isso é bom.

Por isso acho que em vez de dedicar um post à nova idade do universo ou à confirmação da matéria negra, etc (também resultado dos achados de Planck), dedico à anomalia que este radiotelescópio veio confirmar. 





sábado, 16 de março de 2013

Já era tempo da O.M.S. retirar a protecção à acupunctura.

Como não sou muito susceptivel a apelos à autoridade, nunca dei muita importancia ao argumento de que a O.M.S. recomenda a acupunctura. As evidências cientificas e a discussão da metodologia que lhes é subjacente é sempre o ponto onde me procuro focar.

Claro que é preciso recorrer a autoridades numa questão de utilidade prática, (sem dúvida, ninguém tem tempo para estar a rever a bibliografia toda para tudo e/ou a estudar todas as areas a fundo para o poder fazer com segurança) mas isso não quer dizer que seja um argumento bom contra factos, ao tentar estabelecer o que é conhecimento e o que não é de apelar para a autoridade. Foi esse o erro do Aristotelismo da idade média. E de muitas outras coisas ainda nos dias de hoje...

Mas a Organisação Mundial de Saúde devia fazer melhor. Dado a falta relativa de evidências que há a favor desta prática pré-cientifica, e como é um argumento que cada vez aparece mais (talvez porque a apresentação de estudos cegos, randomizados, bem concebidos, com amostras significativas e resultados estatisticamente válidos para efeitos clinicos notáveis seja mais dificil), fui investigar o que realmente tem a O.M.S. a favor da acupunctura.

E o que encontrei sugere a incompetencia da referida organisação em lidar com pseudociencia.

O que eles têm a favor da acupunctura é este trabalho de revisão.

Salta logo à vista na primeira linha da introdução um estranho apelo à antiguidade misturado com um implicito apelo à popularidade: "Nos seus 2500 anos de desenvolvimento, uma experiencia rica foi acumulada na area da acupunctura, atestando à quantidade de doenças que podem ser efectivamente tratadas com esta abordagem". Mau começo.

Não vejo outra maneira de interpretar isto senão como um disclamer de "bias". É como gritar a plenos pulmões: " Eu fui fazer esta revisão bibliográfica, mas é óbvio que já sabia as conclusões a que teria de chegar à partida, afinal não podemos estar todos enganados desde há 2500 anos, certo?"

Afinal quem é que a O.M.S. arranjou para fazer este trabalho? Nao é um ataque à pessoa do autor, mas esta introdução torna imediatamente a questão da parcialidade relevante.

Não é a antiguidade da crença que a eleva a conhecimento. Nem a popularidade. É errado começar por aí. Mesmo que se tenha a honestidade de o dizer. Por isso não estranhei quando verifiquei quem era o autor principal:

Zhang Xiaorui começou a sua prática clinica como "médica pé descalço", que são na prática trabalhadores da saúde básicos, criados pelo regime de Mao, com formação inferior à dos médicos mas necessários na sua falta (pois estes não queriam ir para o campo). Tinham a indicação explicita de misturar a medicina ocidental com a oriental, já que não havia meios "ocidentais" que chegassem para todos. Ela veio mais tarde a concluir o curso em medicina tradicional chinesa (agora a coisa a sério) na Universidade de Pequim. Pessoalmente pode ser uma excelente pessoa, mas é de esperar uma enorme parcialidade. É como incubir um hindu de produzir um relatório que diga ao resto do mundo se Shiva existe ou não.

Em resumo, o que a O.M.S. fez foi ir perguntar aos chineses, que vivem num país de pouca liberdade de expressão, se uma prática re-introduzida no país por Mao e segundo as indicações de Mao (era proibida por ser charlatanismo antes disso) é  boa ou não.

Isto não é caso para um momento WTF? Não? Talvez na altura não se pudesse fazer melhor. Tenho dúvidas, mas adiante.


Vejo depois que os estudos usados na revisão são todos anteriores a 1999. Isso é um problema importante. A acupunctura é notoriamente dificil de ser estudada por ensaios cegos e a metodologia envolvida tem evoluido muito. São os estudos mais recentes (muito mais que 1999) que quando selecionados por rigor e não por outra coisa qualquer, mostram que a acupunctura só tem significado para condições "amigas" do placebo. Por um lado. Por outro lado, pura e simplesmente há muito mais estudos, feitos em várias partes do mundo, e a verificação indenpendente é parte da ciencia.

Também não é feita uma meta-análise rigorosa e bem descrita, quer seja acerca  dos critérios de inclusão quer seja acerca do resultado da estatistica final. Tudo cheira um pouco a "cherry picking" com uma grande quantidade  de estudos a serem traduzidos a partir do chinês pelos autores e revisores (também chineses), porque a  publicação original foi feita em revistas de medicina  tradicional chinesa. Suponho que os trabalhos que não chegassem a determinadas conclusões não seriam sequer aceites nessas revistas com a mesma facildiade, mas nem sabemos isso (não sabemos quase nada sobre o que para lá andam a publicar). Mais, aparentemente nesta revisão, estudos que resultassem em controlos com falsa acupunctura serem iguais a acupunctura, nem sequer foram incluidos, por principio! (1).

"Publication bias" é sempre um problema, mas por isso o valor de cada revista não é igual em todo o panorama cientifico. E para se julgar a Pocranilogia não se pode ir perguntar aos Pocranilogistas os que é que eles andam a dizer nas revistas criadas para publicar artigos de Pocranilogia.

Antes de bricarem no seu próprio canto e dizer que fazem ciencia eles têm de provar perante a comunidade cientifica que é ciencia realmente o que andam a fazer. Se não, isto é só criar um jornal e já está, toda a gente faz ciência. Não vice-versa como se pretende fazer aqui.

Depois, são referidos os efeitos face a grupos controle, mas não são referidos os valores de significancia para esses efeitos. Uma coisa é ter um efeito registado, outra completamente diferente é saber qual a probabilidade de presenciar esse efeito apenas por acaso. Estatistica básica. Mas nada de valores de significancia referidos nesta revisão.

Uma ultima nota diz respeito à ambição do estudo. Em ocasiões diferentes diz coisas diferentes. Num momento dizem que a recomendação de usar a acupunctura como tratamento cabe a organismos nacionais, portando não estando eles a recomendar a acupunctura como normalmente é referido por acupunctores, noutro dizem claramente que pretendem promover "o seu uso adequado".

É de notar que são referidos neste trabalho que há desafios metodológicos envolvidos e também a discussão que havia na altura em torno deles (ainda há hoje em dia mas foram feitos muitos progressos - como disse é notoriamente dificil isolar a acupunctura do efeito placebo e outros tipos de "bias", porque a ocultação total é um problema, já que alguém tem de estar a saber se está a fazer acupunctura ou não). Mas ao menos isso pode ser dito em abono dos autores.

Mas também por isso a questão que se põe é: Agora que sabemos melhor como fazer estes testes e como temos metaestudos e um conhecimento que apontam na direcção oposta, porque não é actualizada esta informação? Porque continua afinal esta recomendação?

Não sei. Isso é uma questão que eles deviam ter já respondida mas não têm.

Notas:
(1) In many published placebo-controlled trials, sham acupuncture was carried out
by needling at incorrect, theoretically irrelevant sites. Such a control really only
offers information about the most effective sites of needling, not about the
specific ef
fects of acupuncture (13). Positive results from such trials, which
revealed that genuine acupuncture is superior to sham acupuncture with
statistical significance, provide evidence showing the effectiveness of
acupuncture treatment. On the other hand, negative results from such trials, in
which both the genuine and sham acupuncture showed considerable therapeutic
effects with no significant difference between them, can hardly be taken as
evidence negating the effectiveness of acupuncture. In the latter case, especially
in treatment of pain, most authors could only draw the conclusion that additional
control studies were needed. Therefore, these reports are generally not included
in this review." - Obrigado ao Marco Filipe pela nota.

Sam Harris a por o dedo em (quase) todas as feridas.

Por acaso, tanto quanto sei, o titulo deste video no You Tube está errado quando ao conteúdo. O catolicismo já não é exactamente isto. Já foi (o inferno agora ja não é arder para sempre, é só assim como estar na solitária para sempre).

Mas existe ainda este cristianismo e as sua razões e as razões que permitiam aquele antigo catolicismo existir  (o inferno já não é arder para sempre) são as mesmas que são referidas por Harris. Se moral é o que se põe na boca de Deus, então temos uma moralidade irracional e obscena. Ainda que venhamos a dizer "há e tal afinal Deus não dizia bem isso..."

Provavelmente Harris refere-se a maior parte do tempo ao cristianismo protestante americano já que é onde ele vive e é a religião do  William Lane Craig com quem está a debater.

Aparte este pequeno comentário, o video vale por si próprio.

domingo, 10 de março de 2013

Placebocilina

Novo medicamento revolucionário. Já, aqui, no Crónica da Ciência.

Contra o cansaço e a falta de memória. Excelente para emagrecer. Protetor hepatico e renal. Eficaz em casos de dor crónica e parvoice.

"A minha tia-avó Jacinta andava mal do figado há uma decada e já tinha ido a mais de 20 médicos e experimentado de tudo. À segunda colherada de Placebocilina já estava curada." - Maria (atriz mais ou menos famosa).

Soa familiar?

Como é possível ainda andar tanta coisa por aí nestes moldes... Ah, pois. Excepto no apelo à novidade. Afinal o apelo à antiguidade está mais na moda.


Não é só o quanto aquece, mas a velocidade com que o faz.

Mais um estudo a fortalecer a conclusão de que a velocidade com que estamos a aquecer é aberrante e impossível de explicar sem recorrer a forcings antropogénicos.

Pior ainda. Ao que parece este aquecimento vem num contexto em que a Terra estaria a arrefecer.

Ver mais aqui.